Olinda, 18 de agosto de 2013
Caríssimas irmãs e irmãos:
Em 1596 esta Ermida de Nossa Senhora do Monte, onde nós nos encontramos, foi doada aos monges beneditinos que chegaram a Olinda, dez anos antes, e se encontravam instalados,provisoriamente, na Igreja de São João dos Militares, hoje capela da Paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe. Assumindo a referida propriedade, passaram os monges a residir nesta casa e aqui permaneceram durante três anos, quando se mudaram para o mosteiro definitivo, onde se encontram até hoje. A Ermida do Monte que contou sempre com uma pequena comunidade de irmãos– tornou-se lugar de retiro, repouso e passeio para os noviços. Neste local além de contemplar a beleza da natureza, os monges desfrutavam de rico pomar com grade variedade de frutas tropicais.
Narra a Ir. Irene Carneiro Lopes, OSB, que “em 8 de agosto de 1962 – Dom Basílio Penido, então abade coadjutor do Mosteiro de São Bento de Olinda, visita o Mosteiro de Nossa Senhora das Graças de Belo Horizonte/MG. Um mosteiro feminino fecundo em vocações e vivência da fé. A conversa é informal, entre ele e a madre abadessa Luzia Ribeiro de Oliveira. Dom Basílio faz referência à visita que recebera em Olinda, de umas religiosas beneditinas de origem belga, desejosas de uma fundação no Brasil; deslumbraram-se elas com a beleza natural de Olinda e do Monte em particular. Todavia este assunto não despertou nele (Dom Basílio) nenhum interesse especial e acrescentou sem qualquer propósito, mais ou menos o seguinte: “quem sabe, se fossem brasileiras…” Esse comentário foi interpretado por Madre Luzia como um convite à fundação, o que, aliás, surpreendeu o abade. Mas de imediato Dom Basílio vê aí o dedo de Deus, já que ele não havia pensado nisso antes. Rezem, disse ele; e no silêncio da oração a vontade de Deus com referência a tal projeto, a curto prazo se manifesta”.
Tudo caminhou, realmente, muito rápido:a aprovação no capítulo do Mosteiro de São Bento de Olinda e do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, assim como, o rescrito encaminhado à Santa Sé. Assim sendo, no dia 15 de agosto de 1963 desembarcaram no Aeroporto dos Guararapes do Recife as sete monjas fundadoras tendo à frente a Madre Mectildes Vilaça Castro como prioresa – e as demais: Madre Eustóquia Martins Vidigal, sub-prioresa, Ir. Cristina Pena de Andrade, Ir Myriam Ribeiro de Oliveira Rezende, ir Maura Mendonça, ir. Hildegardes Azevedo Soares e Ir. Ana Ferreira dos Santos. Foram recebidas com alegria pelos monges de Olinda e um grupo de oblatos e oblatas. Das fundadoras, apenas uma continua neste mosteiro, a ir. Maura Mendonça. A Madre Mectildes Vilaça, abadessa emérita, a ir. Ana Ferreira e a ir. Myriam Ribeiro, retornaram ao seu mosteiro de origem. As demais se encontram na casa do Pai a interceder por nós.
Estava em pleno andamento o Concílio Ecumênico Vaticano II, cujo cinquentenário do seu início estamos celebrando neste “Ano da Fé”, convocado pelo então papa Bento XVI. A nova fundação do Mosteiro de Nossa Senhora do Monte, à luz do Vaticano II, passou por diversas e necessárias adaptações, conforme assegura a crônica da ir Irene, além da inserção na comunidade local, que sempre teve pelas monjas grande apreço e admiração. Em 1967, com o número sempre crescente de candidatas, dá-se a elevação do mosteiro à categoria de priorado conventual, continuando a Madre Mectildes como prioresa e em 1974 torna-se abadia e a Madre Mectildesé eleita sua primeira abadessa. Duas fundações já foram geradas por essa comunidade: O Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória e o Mosteiro da Visitação, ambas no Estado do Ceará.
Neste ano de 2013, neste domingo dedicado aos religiosos e religiosas – dentro do mês vocacional, somos convidados a render graças a Deus pelos 50 anos desta bela história, marcada pela simplicidade de vida e coragem diante dos tantos desafios que ao longo destas cinco décadas precisaram ser superados. Claro que as conquistas e alegrias são inumeráveis porque a obra é de Deus e foi marcada pela obediência e fidelidade. No capítulo 5, “Da obediência”, nosso pai São Bento assegura que “toda obediência somente será aceita por Deus e agradável aos homens se o que é ordenado for executado, sem hesitação, sem demora, não mornamente, sem murmuração, nem com palavras de recusa. Porque a obediência que é prestada aos superiores é tributada a Deus, pois Ele disse: “quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16). E deve ser prestada de boa vontade pelos discípulos, pois “Deus ama aquele que dá com alegria” (2Cor 9,7).
O Mosteiro do Monte iniciou suas atividades neste alto sob a proteção de Nossa Senhora da Assunção, cuja solenidade hoje celebramos. Trata-se do último dogma mariano que afirma a glorificação corporal antecipada de Maria. Verdade de fé, proclamada pelo papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950 com as seguintes palavras: “Para a glória de Deus onipotente que concedeu à virgem Maria a sua especial benevolência, em honra do seu Filho, rei imortal dos séculos, vencedor do pecado e da morte, para aumento da glória da sua dileta mãe e para alegria e júbilo de toda a igreja. Nós afirmamos, declaramos e definimos com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa: é dogma divinamente revelado que Maria, mãe de Deus, imaculada e sempre virgem, depois de terminar o curso terreno da sua vida, foi assunta de corpo e alma à glória celeste” (DS 3903).
A primeira leitura da Missa de hoje apresenta nossa Senhora como a nova Arca da Aliança. Foi ela a escolhida do Pai para gerar, no seu ventre, o salvador da humanidade. Esta leitura do Apocalipse também fala da mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas. Ela que deu à luz um filho homem, ameaçado pelo dragão.O filho veio para governar todas as nações com cetro de ferro. Esta mulher é um símbolo cheio de significados: é Eva, a mãe da humanidade. Também o povo de Israel, assim como Sião. Ainda, Maria enquanto mãe de Jesus, dos seus discípulos e do povo de Deus da nova aliança. O importante sim é ver em Maria a mulher forte que vence o dragão (símbolo do mal) e protege seu filho Jesus e cada um de nós seus filhos adotivos, assumidos aos pés da cruz.
O Evangelho nos recorda a bela sena da visitação de Maria à sua prima Isabel, grávida de seis meses e esperando aquele que virá para preparar os caminhos do Senhor! (Mc 1,2-3). Palavras cheias da unção do Espírito Santo são dirigidas por Isabel à jovem mãe: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Maria responde com o belo cântico do Magnificat que São Lucas coloca em sua boca por tudo que este cântico se assemelha à sua vida. Nesta caminhada ao encontro de Isabel, Maria, a “Estrela da evangelização”, tem muito a nos ensinar, especialmente, na linha do serviço ao outro e do confiante anúncio do Evangelho. O Papa Francisco em sua homilia na Catedral do Rio, na Missa para os bispos, padres, religiosos e religiosas e seminaristas assim concluiu sua pregação: “Caros irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, com nome e sobrenome, cada um de nós, chamados a anunciar o Evangelho e a promover com alegria a cultura do encontro. A Virgem Maria é nosso modelo”. E citando Lumen Gentium, 65 disse: Em sua vida “ela deu o exemplo daquele amor de mãe que deve animar a todos os que colaboram na missão apostólica da Igreja para gerar homens e mulheres para uma vida nova”. Maria colaborou, sobretudo, pela presença amorosa, solidária e silenciosa. Cada pessoa ou comunidade, deve fazer a sua parte, respeitando seu carisma, sem jamais omitir-se aos sinais do tempo. Na exortação apostólica sobre a VITA CONSECRATA, o então papa João Paulo II ao se dirigir para as irmãs de clausura afirma: “As comunidades claustrais, postas como cidades no cimo do monte ou como lâmpadas sobre o candeeiro (cf. Mt 5,14-15), mesmo na simplicidade de sua vida, representam visivelmente a meta para a qual caminha a comunidade eclesial inteira que, avança pelas estradas do tempo com o olhar fixo na futura recapitulação de tudo em Cristo. A estas irmãs muito amadas, exprimo a minha gratidão, encorajando-as a manterem-se fiéis à vida claustral segundo o próprio carisma. Como expressão de puro amor que vale mais do que todas as obras, a vida contemplativa produz uma eficácia apostólica e missionária extraordinária” (VC,59).
Motivado por este texto, concluo lembrando que a nossa arquidiocese tem se empenhado bastante, nos últimos anos, por viver em estado permanente de missão. É nosso deseja estabelecer uma cultura missionária que inclua a todos, bispo, padres, diáconos, religiosos e religiosas, e todo o povo de Deus. Para isso estamos para concluir um Plano de Pastoral, que vem sendo elaborado com a colaboração de todos. Na homilia supracitada, na catedral do Rio, o papa Francisco que tem demonstrado com insistência, grande preocupação com os mais pobres e excluídos, apelou para os bispos, padres e religiosos: “Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a Igreja”. Portanto, como Igreja que somos, situada no nordeste do Brasil, numa grande metrópole, com tantas desigualdades e desafios sociais, espirituais e pastorais, não temos outro caminho senão priorizar a periferia. Para isso, a Igreja de Olinda e Recife conta muito com a força da oração desta comunidade beneditina. Entendemos que caminham paralelamente, ativos e contemplativos, para o bem espiritual e social de tantos irmãos e irmãs confiados ao nosso zelo pastoral.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife