A Semana Nacional da Família está sendo celebrada, este ano, de forma diferente na Arquidiocese de Olinda e Recife. Nas diversas paróquias estão acontecendo desde celebrações, como a ocorrida da Igreja Catedral este último domingo (09/08), marcando a abertura da Semana da Família, até pequenos grupos de encontro, sempre com as devidas medidas de segurança, higiene e distanciamento social.

“Onde não é possível a reunião presencial, as pastorais têm encontrado no mundo virtual um modo de romper as barreiras da distância física”, explica o coordenador arquidiocesano da Pastral Familiar, padre Kaio Henrique Cavalcanti Duarte, que é pároco de Nossa Senhora da Paz, no bairro de Afogados, no Recife.

Até o próximo sábado (15), a Igreja no Brasil convida todos os fiéis a vivenciarem este período especial do Mês Vocacional inspirados no tema “Eu e minha casa serviremos ao Senhor (Js 24,15)”. O tema da Semana da Família faz mergulhar na experiência de fé de Josué e as Tribos de Israel, cujo pano de fundo é o convite a um posicionamento: a quem servir?

Padre Kaio deixa uma mensagem aos fiéis da Arquidiocese de Olinda e Recife, desejoso de que o seriço ao Reino de Deus faça santificar suas famílias.

Mensagem do padre Kaio Henrique:

A quem servir?

A cultura moderna é marcada por um processo de pluralidade de vozes, ideias e personas, muitas delas divergentes da fé católica. Por esta razão, a Semana da Família, este ano, tem como pano de fundo o chamado a um posicionamento: “a quem dar ouvidos em meio a tantas crenças, valores e propostas de itinerários de vida?”. O tema escolhido bebe nas águas de uma experiência muito próxima da nossa, vivida por Josué, em sua missão de inspirar e orientar as Tribos de Israel: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24, 15). Essa é a resposta que se espera da família católica, a pequena “tribo de Deus”, em tempos que exigem clareza de posições e coragem para escolher que caminhos seguir.

É na liberdade que a pessoa humana faz a si, ou seja, seu exercício é mais do que apenas poder fazer isso ou aquilo de forma arbitrária, exercê-la supõe consequências na história individual (o sujeito se realiza ou não naquilo que escolhe) e coletiva (o desejo da realização de si, no exercício da liberdade, ressoa de modo indireto ou direto na vida de outras pessoas). Assim, em um contexto de cultura plural, muitas estradas são possíveis, cada qual com seu sentido de realização. Para nós, os cristãos católicos, a vida não é apenas um sucessivo de escolhas e as pessoas não são pontos de intercessão em uma cadeia de eventos aleatórios. Somos, contudo, uma construção que tem em vista a eternidade de Deus: todos somos vocacionados à imagem e semelhança do Criador. Este é o sentido norteador da vida do homem e da mulher de fé.

Todos estão sujeitos à dinâmica natural do tempo, que é a mudança, e que acontece nas mais variadas instâncias: econômicas, culturais, religiosas etc. Essas dimensões da vida, nem sempre concordam entre si. Cada uma delas tem um sentido próprio, ou seja, um fim que se deseja alcançar. Entretanto, esses fins nem sempre são concomitantes com o chamado de Deus para seus filhos amados e, quase sempre, acabam se tornando ídolos, falsos deuses gerenciadores de posturas e estilos de vida que acarretam sérias consequências para o sujeito e para a vida coletiva. A família é o primeiro espaço em que são transmitidos para os sujeitos crenças, valores e comportamentos. É nela que a vida comunitária inicia e modela os sujeitos que amanhã ocuparão as salas de aula, as ruas, esquinas, praças etc. A realidade histórica é sempre uma projeção dos indivíduos em sua relação subjetiva e social e, por conseguinte, é de algum modo expressão da modelação recebida no núcleo familiar. Por isso, um mundo marcado por uma lógica desigual, desfavorável à vida e ao bem-estar das pessoas (sem trair os princípios evangélicos), é sinal um de que a família não vai bem, de que seus conteúdos de sentido, que serão transmitidos às gerações seguintes, foram contaminados por ídolos e falsos deuses destruidores da harmonia e beleza da criação.

Por isso, na voz de Josué, a Semana da Família 2020 é um chamado para a revisão do itinerário de vida da família católica. A quem servir? Sob que bases deveríamos inspirar o exercício da liberdade (que pode ser um elemento de construção do ser ou de sua destruição)? O que torna meu lar uma família católica? Nestes tempos tão desafiadores, em que muitas pessoas têm redescoberto a beleza da família, permitamos nos questionar se é ao Senhor que a nossa família tem, de fato, servido.
Sempre há tempo para recomeçar.

Coragem! Permitamo-nos!

Jaboatão dos Guararapes, 11 de agosto de 2020

Pe. Kaio Henrique Cavalcanti Duarte Lima
(Presidente da Comissão Arquidiocesana para a Vida e Família)