Penitências, que incluíam até a autoflagelação, não são mais comuns. Agora, fiéis deixam de ver novelas e de ir ao shopping, por exemplo

20150320200909674191oO empresário Cláudio Pascoal, 25 anos, passou uma semana sem acesso às redes sociais. Passou outros sete dias sem acompanhar seus seriados preferidos e deixou de assistir a filmes. A cada semana, um novo “desafio” está sendo aplicado à rotina dele como forma de penitência – comum entre os fiéis católicos no período da Quaresma, entre a quarta-feira de cinzas e a Páscoa. Se nas décadas passadas o jejum e os sacrifícios físicos, como a autoflagelação, eram aplicados, hoje em dia a renúncia a determinadas atividades e tornou mais comum, inclusive com apoio de religiosos da Igreja Católica.

Cláudio aderiu às penitências há quatro anos. Ele faz parte da Comunidade dos Viventes – associação formada por católicos leigos de várias faixas etárias. Nela, grupos se dividem e decidem quais metas devem cumprir ao longo dos 40 dias. “Já fiquei uma semana só bebendo água nas refeições, outra fazendo silêncio diário de 30 minutos e uma sem ligar a TV, por exemplo. É difícil, mas conseguimos cumprir o objetivo”, contou o recifense.

A universitária Laura Cássia Freitas, 26, está sem ingerir refrigerantes desde a quarta-feira de cinzas. Nas sextas-feiras também não come uma das três refeições principais. Em outros anos, ela já deixou de comer pão ou chocolate – o que considerou mais difícil. “Para mim, a penitência é deixar de fazer algo que vá fazer diferença na sua rotina. Passei a fazer esses sacrifícios após entender mais o significado da fé”, disse.

20150320201005481783uPároco do templo de Nossa Senhora da Piedade, Francisco Caetano explicou que a Quaresma remete ao período em que Jesus se retirou para o deserto e passou 40 dias de jejum até a ressurreição. Por conta disso, a Igreja Católica pede que os fiéis também façam esforços. “A penitência foi criada para que as pessoas renunciem de algo que é desnecessário, algo que as converta e as faça crescer mais”, pontuou.

A “modernização” dos sacrifícios religiosos tem sido vista com naturalidade pela Arquidiocese de Olinda e Recife. Nas igrejas por onde já passou, padre Caetano pediu “jejuns” considerados inusitados, mas cumpridos pelos fiéis. Entre eles, a abstinência de novelas ou de passeios ao shopping durante os 40 dias. “É preciso se atualizar nas penitências escolhidas”, disse, ao lembrar que a autoflagelação, por exemplo, era uma prática da Idade Média, que não é mais seguida pelos fiéis.

 

Reportagem publicada no Diario de Pernambuco – 22/03/2015
Repórter: Raphael Guerra 
Fotos: Nando Chiappetta/DP/D.A.Press