Acolher, dar carinho e uma vida digna aos idosos, esse foi um sonho que se tornou realidade na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, na cidade do Paulista. Mas, para concretizar essa idéia ousada, foi preciso muito esforço. Para construir e manter um abrigo de idosos era necessário investimento financeiro. Foi exatamente neste momento que surgiu o segundo e decisivo sonho: criar uma ‘cooperativa’ de materiais recicláveis.

Tendo como base as Campanhas da Fraternidade promovidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos anos de 2003 (Fraternidade e as pessoas idosas) e a de 2004 (Fraternidade e água), o idealizador dos projetos, o padre Valdemir José da Silva, decidiu ‘arregaçar as mangas’.

A coleta seletiva é importante, pois diminui a quantidade de lixo enviada para os aterros sanitários, melhora a limpeza das cidades e reduz a extração de recursos naturais. Segundo dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), “o índice de reciclagem brasileiro de garrafas PET é de 54,8%. O maior do mundo entre os países onde não há coleta seletivaHá oito anos a paróquia desenvolve esse trabalho social e de responsabilidade ambiental. A cooperativa de reciclagem da paróquia, que foi pioneira na cidade, fica localizada no bairro de Maranguape I e se tornou um projeto de sucesso. Com o recolhimento e venda de papel, papelão, plástico, ferro, vidro, alumínio e outros materiais recicláveis, a iniciativa emprega hoje oito pessoas.



A reciclagem desde o começo conta com o envolvimento dos paroquianos da cidade do Paulista. Eles ajudam separando os materiais para a cooperativa que tem um caminhão para fazer a coleta de casa em casa. Porém, no início o trabalho não era fácil, a falta de preparo dos, na época, voluntários era a maior dificuldade. “No começo não sabíamos separar os materiais, colocávamos tudo junto e até nos machucávamos”, disse Jairo de Andrade, 35. “Hoje está tudo mais simples, aprendemos sozinhos como separar o material”, completou.

O trabalho voluntário é muito importante, antes muitos iam ajudar na reciclagem, hoje são raros os dias que eles aparecem. “Antigamente tínhamos muitos voluntários que nos ajudavam no serviço, hoje quase não vem ninguém, isso é muito ruim”, lamentou Andrade.

Em 2004, com o bom retorno financeiro da reciclagem, o padre Valdemir criou o Abrigo Santa Rita de Cássia. O espaço tem o objetivo de oferecer um cuidado humanizado aos idosos abandonados pelas suas famílias. O abrigo tem 11 funcionários divididos em várias funções: cozinha, jardinagem, enfermagem e serviços gerais.

“A partir de uma análise da comunidade, pensamos num projeto social que desse sentido aos paroquianos. Percebemos muitos idosos abandonados então resolvemos criar o abrigo. Os recursos para concretizar esse projeto saíram da reciclagem depois de uma conscientização dos paroquianos em separar seu lixo e encaminhar para nós”, afirmou o padre.

O censo realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o Brasil possui 14.536.029 indivíduos acima de 60 anos, o que corresponde a 8,6% da população total brasileira. O número de idosos abandonados tem crescido muito rapidamente desde o início da década de 90 do século passado, representando mais de 300 milhões da população mundial.

A dificuldade atual do Abrigo Santa Rita de Cássia é contar apenas com um médico voluntário. De acordo com a diretora, Rizonilda Santos “os médicos da Prefeitura da Cidade do Paulista raramente vão visitar os idosos e levar remédios”. No local, são atendidas 58 pessoas que recebem atendimento.

A instituição conta com o apoio de voluntários, que dedicam parte do tempo ao cuidado com os mais velhos. Entre eles estão pessoas que fazem visitas, cuidam do jardim, cortam os cabelos dos idosos, dão banho, alimentação, assistência médica e muito amor. Vitória Maria é uma delas, desde o início se dedica ao abrigo. Sempre sorridente, ela ajuda a manter auto-estima não só dos idosos, mas também dos outros colaboradores. Um verdadeiro exemplo de amor ao próximo. “Vale muito a pena ser voluntário. É uma experiência de vida gratificante. Desde o começo estou aqui e não consigo ficar longe por muito tempo porque eu amo estar aqui. Esses idosos me passam bastante experiência. Eu mudei muita coisa na minha vida. Hoje, vejo o mundo com de uma outra forma”, revelou.

Viver longe da família, da casa, do convívio com os amigos não é fácil. Mas os colaboradores se esforçam para que os idosos se sintam em casa, em uma nova família. “É importante você viver a realidade do outro, principalmente, daqueles acamados porque eles não nasceram assim, e, de repente, estão nessa situação. A gente procura minimizar o sofrimento deles se doando, conversando, dando ânimo para que se sintam importantes”, frisou Vitória Maria.

O sonho do pároco de Nossa Senhora dos Prazeres, padre Valdemir José era acolher os idosos que vivem nas ruas. A situação financeira ainda não permitiu que o desejo de mudar essa realidade se concretizasse. Contudo, desistir não faz parte dos planos do sacerdote e de nenhum dos que acreditam que com vontade e perseverança tudo pode ser transformado. Se você confia nisso e quer ajudar, pode fazer doações para o abrigo. Os itens de maior necessidade são fraldas geriátricas descartáveis e luvas, além de materiais recicláveis para a cooperativa, que financia parte das despesas da casa de acolhimento.

Abrigo Santa Rita de Cássia: 3372.6576
Cooperativa de Reciclagem: 3371.6768


Fotos: Paula Lima
Da Assessoria de Comunicação AOR