Morreu neste domingo, 23 de outubro, Alessandra Cristina de Souza, intérprete de Libras que ajudava a levar a Palavra de Deus nas missas celebradas na Arquidiocese de Olinda e Recife. Cristina, como era conhecida, tinha 50 anos e há seis lutava contra um câncer de mama, sem abandonar o sorriso e o trabalho à comunidade surda.

Durante o sepultamento, que ocorreu nesta segunda-feira (24) pela manhã, no cemitério de Santo Amaro, sua irmã Denise comentou sobre a doação de Cristina à Igreja. “Ela era muito dedicada em tudo que fazia”, disse. Observando a quantidade de gente que compareceu ao velório, principalmente os integrantes da comunidade surda, Denise ficou emocionada. “Agora eu estou vendo o quanto ela era querida, o quanto ela foi importante pra tanta gente”.

Mãe de dois filhos (Artur, de 14 anos, e Arleide, de 21), Cristina morava no Ibura, onde conheceu frei Dennys Pimentel, então pároco de Nossa Senhora de Fátima. Foi tão bem acolhida pelo padre que, mesmo com sua transferência para a Paróquia de São Lucas, em Olinda, fez questão de acompanha-lo e continuar interpretando suas missas, apesar da distância de casa. Mas, para além disso, seu trabalho era visto e admirado em muitas celebrações da Arquidiocese. “Eu achava bonito ver os gestos e expressões faciais de Cristina na festa do Morro da Conceição, na festa do Carmo e em outras missas, sempre ajudando a quem não conseguia ouvir as leituras, os padres e até as músicas”, disse Carmelita Santos, paroquiana de Nossa Senhora do Rosário, de Boa Viagem, no Recife, que acompanhou o sepultamento da intérprete.

O trabalho de Cristina fez grande bem à Igreja. O frade capuchinho Fábio Gomes falou aos amigos e familiares, no cemitério de Santo Amaro, sobre a importância de sua missão, alcançando fiéis que a maioria dos padres não alcança em suas homilias verbalizadas. “Através da linguagem de sinais, Cristina alcançou aqueles que Deus colocou como uma nação para ela, para quem ela levou a Palavra e a Verdade que é Jesus”, disse frei Fábio. “Ela foi um sinal de Deus, ela deu à comunidade surda a oportunidade de alcançar o céu, de saber que Deus ama a cada um, ela doou sua vida ao Reino desta forma, alcançando também sua salvação, falando de Jesus e evangelizando, falando sobre o céu e contribuindo para a salvação daqueles que até então não entendiam, mas que com a interpretação de Libras, nas missas e catequeses, aprenderam que o nome de Jesus deve ser glorificado”.

O padre Jurandir Dias é um dos poucos sacerdotes da Arquidiocese de Olinda e Recife que dominam a linguagem de sinais e que celebram as missas para surdos e ouvintes. Foi professor de Cristina numa pós-graduação e fala sobre ela com carinho: “Ela não negava qualquer pedido de interpretação para os surdos. Estava sempre presente nos eventos de nossa Arquidiocese, garantindo a acessibilidade. Foi uma pessoa que soube lutar contra uma doença que lhe debilitava, mas que, ao mesmo tempo, era nisso que encontrava força para continuar o seu trabalho junto à comunidade surda. Tenho uma grande admiração por Cristina, que foi uma pessoa plenamente engajada e comprometida com as causas dos menos favorecidos – nesse caso, os surdos. É uma grande perda para a todos nós da Pastoral dos Surdos aqui da Arquidiocese”. Além do padre Jurandir, apenas o pároco de Cristo Rei, padre Marlon Laureano, e o pároco de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de Jaboatão dos Guararapes, padre Robson Soares, usam a linguagem de sinais.

Várias igrejas da Arquidiocese lembrarão Cristina em seu sétimo dia de falecimento. A família, no entanto, participará da missa que será celebrada na próxima sexta-feira (28), às 19h30, na igreja matriz da Paróquia de São Lucas, em Ouro Preto, Olinda. A missa será presidida por frei Dennys.

Pascom AOR