Uma manhã para ficar na história. Fiéis, representantes de movimentos e pastorais de toda a Arquidiocese estiveram neste domingo (18/08) no Santuário Nossa Senhora de Fátima, no centro do Recife, para participar das comemorações pelos dez anos de pastoreio de dom Fernando Saburido à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife. Dom Fernando assistiu a alguns vídeos que lembraram as circunstâncias de sua posse, em 2009, como arcebispo metropolitano, elencando algumas de suas realizações nesses dez anos na Arquidiocese. O coral do Movimento Pró-Criança, instituição que oferece educação complementar e catequese a crianças de baixa renda, apresentou duas músicas, sob a regência do maestro Otávio Góes.

Na igreja lotada, dom Fernando presidiu a missa em ação de graças por seu arcebispado usando a casula com a qual foi ordenado bispo, há 19 anos, demonstrando especial carinho e significado à missão que assumiu. A missa foi concelebrada pelo bispo auxiliar de Olinda e Recife, dom Limcêdo Antonio; pelo bispo de Garanhuns e presidente do Regional Nordeste 2 da CNBB, dom Paulo Jackson; pelo bispo emérito de Palmares, dom Genival Saraiva de França; pelo bispo emérito de Nazaré, dom frei Severino de França e por boa parte do clero arquidiocesano.

Foi dom Genival quem fez a homilia da missa, com a serenidade de quem conhece e partilha a amizade de dom Fernando há décadas. Sendo um domingo de espiritualidade mariana, quando a Igreja do mundo inteiro celebra a assunção de Maria com seu corpo incorrupto ao céu, dom Genival associou alguns aspectos da personalidade e do trabalho de dom Fernando que imitam a figura de Santa Maria, como a confiança em Deus, a presteza em servir e a mansidão. “A trajetória de dom Fernando é marcada por datas marianas e eu acredito que, mais que coincidência, isso é desígnio de Deus”, afirmou o bispo emérito.

Ao final da celebração, dom Limacêdo homenageou o titular metropolitano ressaltando sua figura pacificadora e humilde, afirmando que o arcebispo faz questão de estar no meio das pessoas e dos conflitos para evangelizar, pois é um pastor sensível, acolhedor e fiel à sua missão. “Estou sempre atento a seus passos nas visitas pastorais e fico observando e bebendo da fonte de seu ministério”, disse o bispo auxiliar. “Agradeço pelo exemplo de vida e expresso aqui alegria e gratidão por estar participando de sua história”, concluiu.

As homenagens a dom Fernando foram encerradas após a fala da professora Margarida Cantarelli, que faz parte do Conselho Econômico da Arquidiocese de Olinda e recife. Em breves palavras, a magistrada expressou seu contentamento em ter uma pessoa tão centrada como pastor, “que guarda uma espiritualidade profunda de sua formação beneditina”. Apontou a Fazenda da Esperança como um de seus grandes feitos, citou a importância do Congresso Eucarístico Nacional a ser realizado em 2020 no Recife e testemunhou que o nome de dom Fernando é reverenciado dentro e fora da Arquidiocese por suas ações.

Para Severina Paiva, a Dona Sevy, do Morro da Conceição, que participou da celebração, dom Fernando é uma bênção para o povo de Deus. “Vim rezar por ele, agradecendo a Deus por ele ter elevado a igreja do Morro à condição de Santuário”, disse. Segundo Dona Sevy, isso deu novo ânimo a moradores e fiéis. “Faço questão que isso saia na matéria, porque foi e continua sendo muito importante para a comunidade”.

A assembleia ouviu atenta as palavras de agradecimento de dom Fernando (ver abaixo na íntegra). O arcebispo citou as datas marianas que se alinham com sua vida e seu ministério – o Batismo, por exemplo, que aconteceu no dia de Nossa Senhora da Conceição, em Jussaral – e falou sobre sua vocação, desafios e apoios encontrados durante o pastoreio. Sempre humilde, disse que nunca buscou status na Igreja, mas nada é mais acertado do que confiar na graça de Deus e obedecer, como fez Maria. Ao encerrar seu discurso, dom Fernando afirmou que vai continuar lutando “contra qualquer desigualdade que discrimina e exclui”, sendo bastante aplaudido.

Dom Fernando foi nomeado bispo auxiliar para Olinda e Recife (PE) no dia 31 de maio de 2000, sagrado bispo no dia 20 de agosto de 2000, nomeado bispo de Sobral (CE) no dia 18 de maio de 2005, nomeado arcebispo de Olinda e Recife em 1º de julho de 2009 e empossado no dia 16 de agosto do mesmo ano.

Pascom AOR

Discurso de agradecimento

“A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva…” ( Lc 1,46-48).

Meus queridos irmãos e irmãs

Uno-me ao cântico da Igreja que Lucas (evangelista) coloca na boca de Nossa Senhora, ao render graças a Deus pelas maravilhas operadas em sua pequenez, dito por ocasião de sua visita à sua prima Isabel, após receber o anúncio, feito pelo anjo Gabriel, de sua escolha para ser Mãe do Salvador. Respeitadas as devidas proporções ouso, humildemente, com semelhantes palavras, render graças a Deus por ter-me chamado e conduzido até agora, e rogo que assim continue.

Somente depois de minha ordenação episcopal para bispo auxiliar de Olinda e Recife, tive conhecimento de que fui batizado na Solenidade da Imaculada Conceição, na capela do Engenho Pimentel, próxima de Juçaral, com essa mesma invocação. A partir daí, fui percebendo os vários sinais de Maria em minha vida. O Evangelho do dia que recebi a carta de nomeação do Santo Padre, por exemplo, era exatamente o da anunciação, daí a escolha do meu lema episcopal “Secundum Verbum Tuum”. As datas que foram se sucedendo para anúncios e celebrações, quando das minhas transferências, a maioria delas sem minha interferência, aconteceram em celebrações marianas. Minha ordenação episcopal no ano 2000 e posse como Arcebispo de Olinda e Recife em 2009 foram na mesma Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, que hoje vivenciamos.

Resumidamente, minha história vocacional teve início em 1961 no Seminário Menor da Imaculada Conceição, na Várzea. Lá, fiz o curso ginasial e iniciei o científico, como eram chamados na época. Concluí o ensino médio no Colégio Estadual Oliveira Lima, depois do fechamento do Seminário. Anos depois, conheci o Mosteiro de São Bento de Olinda e me encantei pela vida monástica. A essa altura, deixei para trás o desejo de ser padre e assumi o propósito de acolher a vida monástica. Aceitei, mais adiante ser padre, atendendo decisão da comunidade, na pessoa do então abade Dom Basílio Penido. O monge Fernando era uma pessoa realizada e feliz naquela velha abadia de Olinda e pretendia perseverar até o final dos seus dias. Mais os nossos planos nem sempre coincidem com os planos de Deus! Já professo solene e sacerdote, Deus permitiu que passasse por difíceis tribulações, foram as “noites escuras” de que escreveu em um de seus poemas o místico São João da Cruz. Em consequência, precisei deixar o Mosteiro e assumir uma paróquia, contando com o apoio do então arcebispo Dom José Cardoso. Foi nesta condição, após 17 anos de ministério presbiteral, que me chegou o chamado para o episcopado. Fui tomado de muita surpresa e medo, ao ponto de renunciar a uma primeira convocação, tendo cedido ao segundo chamado por ter-me convencido de que não podia dizer não à vontade de Deus que me parecia clara e insistente.

Hoje, rendo graças a Deus pelos 19 anos de minha ordenação episcopal e 10 anos de pastoreio desta minha amada Igreja. Se me sentia indigno e sem condições de aceitar inicialmente a missão episcopal, imaginem mais adiante aceitar o peso do báculo de Olinda e Recife! Lembro-me perfeitamente de minhas conversas com o então núncio apostólico – Dom Lorenzo Baldisseri. Claro que retornar para Recife e estar ao lado dos meus familiares e amigos me agradava, apesar de todo o carinho que sentia e sinto pela Diocese de Sobral. O que me preocupava era exatamente os desafios da missão. O que me convenceu foi reconhecer humildemente que nunca busquei status na Igreja e a convicção de que nada é mais acertado que ser obediente à vontade de Deus. Após muita oração e reflexão, entendi que deveria confiar na graça de Deus e praticar o meu lema episcopal, respondendo como Maria: “Eis aqui a serva do senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

Passada essa década, louvo a Deus pela feliz caminhada ao longo desses anos, graças à proteção do Senhor e às tantas pessoas que têm colaborado com o meu ministério. Naturalmente, problemas não faltaram, todos, porém, superados pela força da oração, da unidade e do diálogo confiante. Louvo a Deus especialmente pela inspirada decisão que tomamos inicialmente, em Assembleia, de buscar ser uma Igreja em estado permanente de missão, decisão que vem sendo confirmada sempre mais pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e pelas orientações da Santa Sé. O Papa Francisco, que foi redator do Doc. de Aparecida e conhecendo bem os desafios da Igreja na América-Latina muito tem feito nesse sentido, inclusive, motivando-nos ser uma Igreja samaritana, solidária com os pobres e excluídos. Assim como, a criação dos vicariatos territoriais e pessoal que vem nos possibilitando a realização de um governo descentralizado e participativo.

Vejo aqui à minha frente tantos irmãos e irmãs que representam sinais do amor de Deus para comigo, na missão de pastorear o povo de Deus, confiado à minha indignidade. Evitarei citar nomes porque seria impossível lembrar todos/as e poderia cometer injustiça. Cito grupos ou funções, começando pelos dois excelentes bispos auxiliares que me foram dados, um deles transferido para a nova Diocese de Cruz das Almas – Bahia. Também os bispos eméritos que por aqui passaram ou continuam, eles representam bênçãos para nossa Igreja. Agradeço aos demais irmãos bispos do Regional Nordeste 2, sobretudo os que fazem parte da nossa Província Eclesiástica. Meu muito obrigado aos amados vigários gerais e episcopais, meus queridos presbíteros, diáconos e seminaristas, religiosos/as (que neste terceiro domingo do mês vocacional são homenageados), às novas comunidades e pessoal das pastorais, movimentos e associações. Os que integram o Colégio de Consultores, dos Conselhos: Episcopal, Presbiteral e Econômico. Coordenação e agentes de pastoral, assessores, comissões pastorais, formadores dos seminários, Moderador da Cúria, Chanceles, os que colaboram ou colaboraram na secretaria do arcebispado, à Comissão de Justiça e Paz Arquidiocesana, nossos funcionários, dentre eles meus dedicados motorista e cozinheiras, que estão mais próximos no dia a dia.
Agradeço a todos/as que integram a Santa Casa de Misericórdia e demais Irmandades, à Rádio Olinda, Fazenda da Esperança e Movimento Pró-criança. Agradeço às parcerias do Governo do Estado e Prefeituras Municipais dos 19 municípios que integram esta arquidiocese, aos amigos políticos e também à Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), pela formação dada aos seminaristas, além da abertura para acolher nossas assembleias e cursos. Gratidão à Imprensa, pela cobertura dos principais eventos religiosos e sociais promovidos pela arquidiocese. Obrigado aos poderes legislativo e Judiciário. Aos meus queridos familiares. Aos grupos que nos assessoram e que demonstram mais amor que interesse profissional: Deloitte, Da fonte Advogados e ContBrasil.

Grande parte desse povo encontra-se aqui, pessoalmente ou representado. Nossa arquidiocese que atualmente conta com 140 paróquias para uma população que já supera 4 milhões de habitantes, não poderia ser pastoreada de outra forme senão contando com o apoio abnegado de todos vocês. Eu me sinto feliz na missão que Deus me confiou e pretendo levá-la até o último dia, com igual entusiasmo. A todos/as, humildemente, peço perdão pelas minhas limitações e falhas no relacionamento e no testemunho.

Temos à nossa frente o grande desafio de oferecer ao Brasil o XVIII Congresso Eucarístico Nacional em novembro do próximo ano. Com o tema: “Pão em todas as mesas”, teremos oportunidade de refletir a situação precária que vivem os pobres e famintos, sobretudo em nossa região nordestina. E recordar aos congressistas e a todo o Brasil, a necessidade de lutar contra toda e qualquer desigualdade que discrimina e exclui. Quero desde já agradecer a todos/as envolvidos nos trabalhos de preparação e realização do Congresso. Teremos oportunidade de grandes ganhos espirituais e pastorais para nossa Igreja Particular e demais Igrejas do Regional e do Brasil. Finalmente, agradeço à equipe encarregada de organizar esta celebração de hoje, aos que colaboraram em toda e qualquer função, do pregador e oradores ao pessoal da limpeza e arrumação. À direção do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, somos gratos pelo espaço e acolhimento.

Que Deus abençoe recompense a todos/as, continuem na unidade, fazendo sua parte na missão que lhes cabe enquanto Igreja, e nunca se esqueçam de rezar por mim.

Muito obrigado!

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Metropolitano
Recife, 18 de agosto de 2019.