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“Vence a indiferença e conquista a paz” é o tema que o papa Francisco escolheu para o 49o Dia Mundial da Paz, a ser celebrado no 1o de janeiro desse ano novo. Para nós, na realidade de nossa arquidiocese, esse tema se concretiza de diversas formas e toma uma importância própria.

Nessa passagem de ano, damos uns aos outros os votos de feliz ano novo, mergulhados em um clima de crise social, política e econômica que se manifesta de modo forte no Brasil, mas se espalha também por todo o mundo. Em primeiro lugar, a fé nos chama a não nos conformarmos com a onda de pessimismo e mesmo de ódio que ameaça o nosso país e os meios de comunicação. De fato, é normal que os sinais de crise econômica e do risco de recessão nos preocupem. A luta contra a indiferença nos faz exigir do governo e das autoridades políticas providências extraordinárias para não penalizar sempre as mesmas parcelas já desfavorecidas da população. Quando o papa denuncia no mundo uma espécie de “cultura da indiferença”, ele pede que os padres, agentes de pastoral e todos que fazem parte da Igreja deem sinais claros de uma grande sensibilidade pastoral e social a serviço das vítimas dessa sociedade desigual.

Em recente nota sobre o momento nacional que estamos vivendo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil assim se expressou: “Neste momento grave da vida do país, a CNBB levanta sua voz para colaborar, fazendo chegar aos responsáveis o grito de dor desta nação atribulada, a fim de cessarem as hostilidades e não se permitir qualquer risco de desrespeito à ordem constitucional. Nenhuma decisão seja tomada sob o impulso da paixão política ou ideológica. Os direitos democráticos e, sobretudo, a defesa do bem comum do povo brasileiro devem estar acima de interesses particulares de partidos ou de quaisquer outras corporações. É urgente resgatar a ética na política e a paz social, através do combate à corrupção, com rigor e imparcialidade, de acordo com os ditames da lei e as exigências da justiça”.

Mesmo se muitos de nós temos críticas justas a fazer, não podemos aceitar que a justiça se mostre, cada dia, mais seletiva e partidária. Deus nos chama a sermos sempre críticos e exigentes. A profecia sempre brota em situações de crise e não em tempos de tranquilidade. Com certeza, é nossa missão de cristãos e cristãs, manter a esperança e acreditar que a salvação vem sempre a partir das bases e das organizações eclesiais e sociais.

Um bom sinal nesse começo de 2016 é o fato de que a CNBB e o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) novamente se juntam para nos propor mais uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, dessa vez sobre “Casa comum, nossa responsabilidade”. Apresenta o saneamento básico como instrumento de paz e justiça para a humanidade e para o planeta Terra. Peço encarecidamente a todos os padres e agentes de pastoral da arquidiocese que se preparem devidamente para colaborar com esse grande mutirão da Fraternidade que terá sua abertura na Quaresma, mas deve inspirar nossa ação pastoral por todo esse ano.

No início deste ano de 2016, como já foi amplamente noticiado, depois de um longo processo de diálogo, a nossa arquidiocese terá a renovação dos mandatos da maioria dos párocos e administradores paroquiais. Assim, cumprimos a atual orientação da Igreja, conforme lei complementar da CNBB sobre o assunto. A disponibilidade para a mudança revela que os padres são verdadeiramente membros de um colégio de presbíteros, responsável pelo conjunto da arquidiocese como uma verdadeira Igreja local, com seu rosto próprio e sua vocação de ser sacramento da Igreja Universal nessa região na qual Deus nos colocou. Nela, cada paróquia e comunidade é parte integrante e dinâmica dessa Igreja maior. A disponibilidade que os padres revelam comprova que eles não se sentem donos de suas paróquias e aceitam se inserir no caminho das comunidades às quais são enviados em verdadeiro espírito de serviço fraterno.

Em muitas culturas antigas, a passagem do Ano Novo era celebrada com ritos simbólicos como queimar as roupas antigas e se revestir de novos trajes de festa. Mesmo sem voltarmos a esses costumes, é bom que o Ano Novo estimule em nós o apelo à renovação de nossas mentes e nossos corações pelo Espírito, fonte de novidade permanente. Que esse ano novo de 2016 seja para todos nós um ano de verdadeiro jubileu de conversão e renovação no seguimento daquele que, hoje ainda, continua a nos dizer: “Faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5 ss).

Deus os/as abençoe com a graça dessa renovação espiritual.

 

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife