AO CLERO, RELIGIOSOS/AS E TODO O POVO DE DEUS

Olinda, 04 de agosto de 2023,
memória de São João Maria Vianney,
patrono dos párocos.

“Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para colher. Tempo para calar e tempo para falar…” (Ecl. 3,1-8).

Meus amados irmãos e irmãs,

Aparentemente pessimista, o livro do Eclesiastes é profundamente lúcido e propositivo. O texto acima nos apresenta uma realidade que faz parte da vida de todo ser criado. Particularmente, ao longo dos meus 76 anos de vida, Deus me deu várias oportunidades, vivenciadas cada uma delas a seu tempo, entre calmarias ou turbulências, vividas no esforço da sensatez, buscando sempre a construção da paz evangélica. Certamente a história se encarregará de fazer o julgamento. Mais um tempo se cumpre em minha existência. O que me resta? Simplesmente agradecer por ter chegado inteiro até aqui, e me preparar para o novo que o Espírito me indicará.
O Concílio Vaticano II nos ensina que todo bispo é pastor da Igreja Universal e não apenas de sua Igreja local. Nossa visão de Igreja não é simplesmente de localidade, mas de Igreja em todo o universo, como comunhão eclesial. O bispo emérito continua exercendo sua função de doutor da fé e profeta do evangelho. Isto em uma amplitude maior ainda do que apenas no âmbito da Igreja que entregou. Essa nova missão é realizada em plena comunhão, de modo mais abrangente e com maior liberdade pela sua própria condição de vida e serviço. Pela sua experiência muito poderá fazer, sobretudo, no múnus da escuta e do aconselhamento.
Nos últimos dias, com muita frequência, tenho percebido pessoas se aproximarem de mim com semblante de tristeza e preocupação com o meu futuro. Para estes, asseguro que humanamente falando posso até, em algum momento, ter aparentado inquietação e cedido às emoções, mas são reações naturais que não correspondem, absolutamente, ao que se passa no mais íntimo do meu coração. Sou desta terra querida, aqui nasci, cresci e sempre vivi. Foi aqui que, despertei para a vocação e me coloquei a serviço da Igreja, daí a provável explicação dos sentimentos. Estou, portanto, feliz por ter chegado bem até o presente momento e com energia suficiente para ainda continuar ajudando, na medida do possível. Só tenho, portanto, que agradecer a Deus por ter chegado até o fim.
Neste dia em que celebramos a memória do admirável São João Maria Vianney, o humilde Cura D’Ars, proclamado patrono dos párocos pelo papa Pio XI, ocasião em que me encontro em nossa Catedral com o nosso clero, a vida religiosa e consagrada e representantes do povo de Deus, para esta celebração de ação de graças, rendo graças a Deus pela nossa amizade e a disponibilidade de vocês que colaboraram com a missão que estou concluindo. Se consegui fazer algum bem, certamente foi graças ao apoio e disponibilidade de todos e todas. Fiquem certos de que, em momento algum me faltou a proteção de Deus. Ele que me chamou e enviou, esteve sempre ao meu lado dando-me força e coragem para superar os obstáculos que se colocaram à minha frente. Aproveito para, humildemente, pedir perdão pelas falhas cometidas ao longo desses 19 anos dos 23 do meu episcopado, dedicados a essa nossa querida arquidiocese: 5 como bispo auxiliar do meu estimado predecessor dom José Cardoso Sobrinho e 14 como arcebispo metropolitano.
Decidi lhes escrever essa mensagem exatamente para externar minha gratidão a todos vocês, muitos dos quais realizando trabalho de bastidores igualmente ou até mais importante. Não cito nomes, mas funções ou grupos pastorais e organizacionais. Muito obrigado meus queridos bispos auxiliares e eméritos, como foi edificante e motivadora nossa convivência fraterna; agradeço o carinho e prontidão de todos os vigários gerais e episcopais; aos coordenadores de pastorais e presidentes das comissões arquidiocesanas de pastoral; a todos os presbíteros e diáconos, muitos deles ordenados pela imposição de minhas mãos; ao colégio dos consultores e todos os membros dos conselhos: episcopal, presbiteral, econômico e pastoral; aos formadores e seminaristas dos nossos dois seminários, à direção e todo o corpo docente da UNICAP; como religioso que sou, agradeço muito a presença e participação da vida religiosa, ativa e contemplativa, dentre esses não posso deixar de agradecer, de coração sincero, aos meus confrades beneditinos que, com alegria, me acolheram nessa nova fase de minha vida; às novas comunidades, cada uma com seu carisma e muita disponibilidade; a todos os nossos queridos e inesquecíveis funcionários/as, das várias instituições ligadas à arquidiocese, pela amizade e fidelidade; aos leigos e leigas desta imensa Igreja, engajados em nossas pastorais, movimentos e associações ou simplesmente participantes; às autoridades do executivo, legislativo e judiciário em âmbito municipal, estadual e federal, sempre disponíveis aos nossos apelos; às forças armadas, polícia militar e corpo de bombeiros, presentes e participativas em nossas ações nos dezenove municípios que integram essa arquidiocese; à imprensa que sempre atendeu aos convites da nossa Pastoral de Comunicação e muito nos ajudou a divulgar as iniciativas da Igreja. Aos meus queridos familiares, sempre presentes e solidários em qualquer situação; finalmente, agradeço o apoio e edificante convivência com os irmãos e irmãs de outras denominações religiosas, presentes nesta nossa Igreja.
Continuem, da mesma forma e, até mais intensamente, apoiando e ajudando nosso novo arcebispo de Olinda e Recife – Dom Paulo Jakson Nóbrega de Sousa, para que ele seja muito feliz em nosso meio e ajude nossa Igreja a “avançar para águas mais profundas” (Lc 5,4). A dom Paulo, meu querido irmão, nossa gratidão pelo seu SIM e a certeza de que estaremos sempre ao seu lado, unidos pela oração e serviço.
Sob a intercessão de Santo Antônio, padroeiro desta nossa arquidiocese e de Nossa Senhora do Carmo, a mãe de Deus e nossa, que nunca me faltou ao longo de minha vida, invoco as bênçãos de Deus sobre todos e todas.
Por favor, sempre se lembrem de rezar por mim.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Emérito de Olinda e Recife