
Nesta Sexta-feira Santa (10/04), na catedral do Santíssimo Salvador, em Olinda, houve silêncio tocante na Liturgia da Paixão e Exaltação da Cruz. O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, e os poucos componentes da equipe de liturgia viveram solenemente a lembrança de que Jesus passou por uma morte dolorosa e humilhante para chegar à glória da ressurreição. Mensagem de esperança deixada há mais de dois mil anos, que mais do que nunca fala ao nosso hoje.
“É muito importante que tenhamos diante dos olhos que, diante de tanto sofrimento que as pessoas estão passando, com medo da pandemia e suas consequências, a Paixão de Jesus assume um papel muito especial: o de mostrar que, em Deus, toda dor vai passar e em breve cantaremos vitória”, disse o arcebispo.

Às três da tarde em ponto, dom Fernando dirigiu-se à frente do altar e prostrou-se, em sinal da humilhação do “homem terreno” e da tristeza da Igreja. A catedral, praticamente vazia, esteve em absoluto silêncio durante os momentos iniciais da celebração, sem música ou orações. As leituras seguintes rememoraram a condenação e o calvário de Jesus, que aceitou humildemente a morte de cruz para a salvação dos homens.
Para o arcebispo, há que se aprender muito com a entrega de Jesus. “Foi um ato de amor, porque sabia do amor do Pai, tinha confiança no Pai”, disse o arcebispo. “O mundo vive hoje sem confiança, sem fé, numa inquietude porque está em quarentena. Enquanto muitos estão em casa querendo sair e passear, outros estão nos hospitais, querendo voltar para o aconchego de suas casas. Então, façamos esse sacrifício, fiquemos em casa, não é tempo ainda de sair, colaborando para que o vírus não se propague, para que possamos, livres de tudo isso, viver uma experiência pascal de reencontro e transformação para o melhor de nós”.

Como é previsto em caso de grave necessidade pública, a Arquidiocese decidiu acrescentar uma intenção especial à lista de preces do dia: “Oremos, irmãos e irmãs, a Deus Pai todo-poderoso, para que livre o mundo de todo erro, expulse as doenças, especialmente a Covid-19, e afugente a fome, abra as prisões e libertos os cativos, vele pela segurança dos viajantes e transeuntes, repatrie os exilados, dê saúde às vítimas do novo Coronavírus e a todos os doentes, a salvação aos que agonizam, paz às famílias e força aos profissionais de saúde”.

Conforme dita o rito, após as preces dom Fernando dirigiu-se à porta da catedral para buscar a Santa Cruz que fica coberta por um pano. Descobrindo-a aos poucos com a antífona “Eis o lenho da Cruz”, o arcebispo depositou a cruz diante do altar, revelando Jesus Crucificado. Diferente de outros anos, com a ausência do povo na igreja, não houve fila para beijar a cruz. O arcebispo, numa atitude isolada mas cheia de significado, beijou o lado da imagem de Jesus Cristo – que foi transpassado pela espada, de onde jorrou água e sangue.

A Igreja, seguindo uma antiquíssima tradição, neste dia não celebra a Eucaristia, com a consagração da hóstia, mas distribui em comunhão as hóstias anteriormente consagradas – na sexta-feira deste ano, excepcionalmente, apenas aos ministros que participaram da celebração, dada a ausência dos fiéis.

O final do dia foi marcado por uma procissão solitária: sobre um carro, a imagem do Senhor Morto deixou a catedral do Santíssimo Salvador e percorreu as ruas do Sítio Histórico de Olinda. Alguns carros se juntaram ao cortejo solene que durou cerca de meia hora. Fiéis acompanharam de janelas e varandas.
Pascom AOR