da redação

“Hoje, o Cristo nasceu para nós.

Vinde e o Adoremos, aleluia!”

Queridos irmãos e irmãs,

Mais uma vez, essa palavra que recebemos no invitatório da festa de Natal nos alerta para o “hoje de Deus”, este Hodie que atualiza o mistério celebrado na realidade atual da nossa vida. Se não reconhecermos o chamado divino para renascermos com o Cristo para um modo novo de sermos e de vivermos hoje, a festa do Natal será apenas uma recordação saudosista de um passado sem consequências.

É fundamental que a celebração do Natal nos recorde que o que nos caracteriza como seres humanos não é tanto ser mortais, já que todo ser vivo é mortal. O que nos distingue é a capacidade de nos renovar e sermos como pessoas natais, ou seja, capazes, de acolher a graça divina e renascer constantemente, como pede o apóstolo: “revesti-vos da nova humanidade, criada à imagem de Deus, com justiça e santidade autêntica” (Ef 4, 24).

Atualmente, este apelo a nos renovar como pessoas humanas (os textos falam em “homem novo”, isso é, um ser humano renovado em sua humanidade) pede de nós neste Natal nos tornarmos humanos como Jesus e tornar nossa Igreja cada vez mais parecida com Jesus, “que se esvaziou a si mesmo” por amor (Fl 2, 5).

Na realidade atual do Brasil, no contexto em que vivemos no Recife e cada um/uma de nós em sua comunidade local, estamos convidados a concretizar este apelo do Cristo que se faz plenamente humano e quer nos humanizar cada vez mais “transformando nosso coração de pedra em coração de carne” (Ez 36). Será que isso nos tornará capazes de rever nossas posições rígidas em relação à nossa Igreja, os nossos julgamentos desamorosos com relação a irmãos na fé, as nossas posturas inflexíveis em relação às pessoas? E nossas posições sociais e políticas, aceitamos sobre elas dialogar e nos dispomos a rever e a evoluir ou nos fechamos dogmaticamente em posturas autoritárias?

Por que até hoje há leigos, padres e ministros de Deus que interiormente não reconhecem e não acolhem plenamente e de coração a palavra do Cristo vindo a nós através da profecia do papa Francisco?  

Talvez neste Natal a sua mensagem mais atual para nós seja a da encíclica Fratelli Tutti : “Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos e irmãs” (FT  8).

Como seria bom que depois da bênção divina que foi para nós, em nossa arquidiocese, o Congresso Eucarístico, este Natal nos trouxesse de presente esta consequência de celebrarmos juntos a ceia de Jesus: a busca de uma maior comunhão, mesmo com sensibilidades diversas e com pensamentos sociais e políticos que podem ser discordantes, nos sentirmos todos e todas, chamados a testemunhar juntos que somos todos irmãos e irmãs do mesmo Pai do céu e que Jesus, ao nascer em Belém e ao dar a sua vida por nós, nos fez irmãos e irmãs, mais do que se fôssemos parentes.

Refazendo a antiga oração do dia do Natal, concluo com esta prece:

Ó Deus que maravilhosamente criastes o ser humano e mais maravilhosamente ainda o recriastes pela vinda em nossa carne de Jesus, o vosso Filho, olhai para esta vossa família, que celebra este Natal e fazei que sejamos humanos como Jesus para que, participando da sua humanidade, recebamos em nós o seu Espírito e possamos ser divinizados pelo seu Amor. Nós vos pedimos isso, por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Para vocês, um Natal renovado de graça e de amorosidade.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB

Arcebispo de Olinda e Recife