Na manhã da quarta-feira, 14/08, o bispo auxiliar de Olinda e Recife e bispo referencial da Comissão para Caridade, Justiça e na Paz do Regional Nordeste 2 da CNBB, dom Limacêdo Antonio da Silva e comitiva estiveram presentes a uma defesa de dissertação de mestrado de Antropologia, na UFPE, bairro da Cidade Universitária. Dom Limacêdo, padre Luciano Aguiar (Diocese de Pesqueira), Ângelo Zanré (Associação Provida) e padre Fábio Santos (Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife) assistiram a defesa de dissetação de mestrado em Antropologia do aluno Whodson Silva, intitulada: O conto das quatro mil almas: uma etnografia do confronto de Indígenas e Quilombolas com a Central Nuclear do Nordeste em Itacuruba”. O objeto de estudo do mestrando se alinha com as preocupações da Comissão para Ação Social Transformadorado Regional Nordeste 2 da CNBB, em defesa das populações chamadas de originárias, os descendentes de quilombolas e de indígenas residentes na região de Itacuruba, Sertão de Pernambuco, bem como a salvaguarda de seus direitos.

Em junho, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, promoveu na Cúria Metropolitana uma reunião com a presença de parlamentares do legislativo estadual e federal da bancada pernambucana e de representantes da Diocese de Floresta, onde está inserida a cidade de Itacuruba e de movimentos sociais em defesa dos moradores originários. A reunião teve por objetivo mobilizar os parlamentares e a sociedade civil para se articular contra a instalação de uma Usina Nuclear em Itacuruba. Desde 2011, o Governo Federal vem reunindo esforços no sentido de implantar uma Central Nuclear na região sertaneja, desconsiderando as populações primitivas – indígenas e quilombolas – e seus direitos. Como fruto deste encontro, os parlamentares presentes assumiram o compromisso de agendar uma audiência pública no município de Itacuruba, para debater os impactos de uma possível instalação de um empreendimento nuclear na região. Dom Limacêdo informa que também está previsto o agendamento de um encontro com os bispos do Regional NE2 e das dioceses que têm localização próxima da bacia do Rio São Francisco (BA, AL, PE, SE e MG), com a presença de Dom Gabriel Marchesi (Bispo diocesano de Floresta/PE) e do padre Luciano Aguiar, para refletirem sobre o tema.

Conforme relatou o mestrando, em sua apresentação, há três grupos indígenas e três grupos quilombolas residindo na região de Itacuruba e a possível instalação de uma Usina Nuclear no local afetará os agricultores, pescadores e moradores da cidade, bem como suas famílias. “Observamos na América Latina que os indígenas e os quilombolas são sempre descaracterizados, invisibilizados e vistos como empecilho ao desenvolvimento”, destacou Whodson. O mestrando salientou ainda que o Rio São Francisco é um campo de disputa permanente. Em 1988, a região de Petrolândia, Rodelas e Itacuruba foi realocada, com a criação da barragem de Itaparica, que alagou as terras dos moradores originários, gerando a ruptura de vínculos étnicos, a perda da identidade dos povos e diversas mazelas sociais. Desde 2011, a população de Itacuruba e região se mobiliza contra a instalação de uma Central Nuclear, buscando voz e vez junto aos organismos da sociedade civil. Whodson salientou a importância do apoio da Igreja Católica e de instituições que podem salvaguardar os direitos humanos dos moradores do Sertão do São Francisco: “A fé e a etnicidade deste povo vão fazer valer a resistência ao confronto antinuclear.” Formaram a banca examinadora da defesa da dissertação os seguintes professores: Vânia Fialho (UFPE), Russel Parry Scott (UFPE), Carolina Mendonça (Unilab), Edwin Reesink (UFPE) e Alfredo Wagner de Almeida (UFAM).

Para dom Limacêdo, a Igreja e a sociedade precisam atuar em comunhão, em favor dos irmãos excluídos. Conforme ensina o evangelho de Mateus
(Mt 18,20): “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Segundo o bispo auxiliar, toda visibilidade e debate que forem possíveis promover para esta causa são válidos, pois é necessário considerar a riqueza dos grupos sociais afetados e a sua contribuição cultural e étnica para a construção do tecido social brasileiro.

Defesa da dissertação contou com a presença de representantes dos moradores de Itacuruba e região

Representando a Diocese de Floresta, o padre Luciano Aguiar, informa que é importante apoiar a defesa da dissertação de Whodson, pois o tema estudado vem ao encontro da problemática enfrentada no território da diocese e na paróquia de Itacuruba e na região de Floresta e Belém do São Francisco. Para o sacerdote, a explanação do mestrando ajuda a compreender melhor a dinâmica dos empreendimentos que desfavorecem a vida. “A Igreja Católica, bem como a diocese de Floresta, promovem a defesa da vida e ficamos muito felizes a presença de dom Limacêdo aqui na Universidade, pois demonstra que a Igreja atende ao que nos pede o Papa Francisco, incentivar uma Igreja em saída, que dialoga com o universo acadêmico, respeita e defende os irmãos mais pobres, especialmente os povos tradicionais do nosso território”, conclui o padre Luciano.

(Pascom Arquidiocese de Olinda e Recife)