Na solenidade de São Pedro e São Paulo, em 30 de junho, na catedral de Olinda, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, apresentou aos fiéis arquidiocesanos o seu novo bispo auxiliar, dom Limacêdo Antônio da Silva. Conheça, na íntegra, a homilia de dom Fernando que acolhe e saúda dom Limacêdo em sua chegada.
Apresentação de Dom Limacêdo Antônio da Silva
Bispo de Salde e Auxiliar de Olinda e Recife
Catedral de Olinda
Caríssimos irmãos e irmãs
Celebramos hoje a vigília da Solenidade de São Pedro e São Paulo e ao mesmo tempo o dia do Papa. Hoje é o dia em que somos convidados a rezar pelo Santo Padre, além de contribuir com suas numerosas obras pastorais e sociais em todo o mundo. Nesta ocasião, a Igreja Particular de Olinda e Recife tem a alegria de acolher e apresentar seu novo bispo auxiliar – Dom Limacêdo Antônio da Silva, do clero da Diocese de Nazaré da Mata, que este ano está celebrando 100 anos de sua instalação, juntamente com as dioceses de Pesqueira e Garanhuns, desmembradas desta nossa arquidiocese, através da bula “Archidiocesis Olindensis et Recifensis”, do Papa Bento XV, aos 02 de agosto de 1918. Na ocasião, para assumir a nova Diocese de Nazaré da Mata foi eleito, em 1919, o Pe. Ricardo Ramos de Castro Vilela, pernambucano, do nosso clero, pároco de Gravatá. Neste ano jubilar, portanto, a diocese filha está retribuindo o gesto, oferecendo para a Igreja mãe, um dos seus presbíteros, para a função de bispo auxiliar.
Os textos da Palavra de Deu,s apresentados para a nossa meditação deste dia, deixam clara a força de vontade e disponibilidade dos apóstolos Pedro e Paulo, homens cheios de virtudes e ao mesmo tempo de fragilidades. Realidades muito presentes na criatura humana em todos os tempos. As insistentes perguntas feitas a Pedro no Evangelho que escutamos: Simão, filho de João, tu me amas mais que estes? E a resposta humilde do apóstolo: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”, evidenciam por um lado, as fraquezas e infidelidades do apóstolo e por outro, o amor insistente de Deus que não desiste. Ele compreende e está sempre pronto a dar nova oportunidade quando percebe que estamos verdadeiramente arrependidos. Quando questionado, pela terceira vez, diz o Evangelho: “Pedro ficou triste e respondeu: Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo”. Finalmente, escuta de Jesus a palavra chave: “Segue-me!” Pedro, obediente, assim respondeu confiando na misericórdia e presença de Deus em sua vida e missão. Assumiu desta forma, o compromisso com o anúncio da verdade libertadora do Evangelho até o último dia de sua vida, quando em Roma recebeu a coroa do martírio.
O mesmo exemplo nos dá o Apóstolo Paulo que se deixou tocar pela graça do chamado do Senhor na estrada de Damasco. Aquele que antes perseguia os cristãos torna-se testemunha vigorosa da ressurreição de Jesus. Assumiu essa missão de maneira coerente como ele próprio assegura na carta aos Gálatas que ouvimos: “Quando aquele que me separou desde o ventre materno se dignou revelar-me o seu Filho, para que eu o pregasse entre os pagãos, não consultei carne nem sangue, nem subi logo para Jerusalém para estar com os que eram apóstolos antes de mim. Pelo contrário, parti para a Arábia e depois voltei ainda a Damasco. Três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Cefas e fiquei com ele quinze dias”. Paulo foi então enviado, enfrentou rejeições e desconfianças da parte da própria Igreja, mas continuou firme ao ponto de testemunhar, conforme afirma na mesma carta: “O evangelho pregado por mim não é conforme a critérios humanos. Não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo”. Em suas viagens missionárias, formando comunidades e constituindo presbíteros para animá-las, muito contribuiu para a organização e crescimento da Igreja.
Pedro e Paulo, as duas colunas da Igreja, tinham cultura e temperamento bem diferentes e isso foi enriquecedor para a Igreja. Tinham maneiras diversas de ser e agir, porém sempre se entendiam, no desejo de caminhar na unidade e promover o bem da Igreja de Jesus Cristo. Foi graças a isso que mudanças substanciais aconteceram, sobretudo, no que diz respeito à superação das tradições de judaísmo em vista da nova realidade cristã. Sem dúvida, deixam um exemplar legado, merecedor de imitação, para a Igreja de todos os tempos.
Meu prezado irmão Dom Limacêdo, apesar de sua indignidade, você foi convocado pela Igreja e nomeado pelo Papa Francisco a fazer parte do seleto colégio apostólico que tem como primeiros líderes Pedro e Paulo. É uma graça muito grande que ultrapassa sua força e inteligência. Somente Deus, na sua infinita misericórdia, poderá conduzi-lo. De sua parte, a única exigência que o Senhor lhe faz é responder SIM ao chamado e sua entrega irrestrita nas mãos de Deus. Ao longo de sua caminhada episcopal precisará muito repetir esse sim, optando sempre pelos caminhos do Senhor e nunca pelas propostas do mundo. A sua vocação é servir, a exemplo de Jesus Cristo que assim se revelou: “Eu vim para servir” (Mc 10,45). Há quase seis décadas, os bispos de todo o mundo, reunidos no concílio Vaticano II, nos convocaram para assumir como nossas “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias da humanidade de hoje, sobretudo dos pobres e de todas as pessoas que sofrem, pois essas são também as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos e discípulas de Jesus (GS 1). Olinda e Recife, uma das igrejas mais antigas do Brasil, tem uma bela história de compromisso missionário, mancada pelo serviço, pela coragem de verdadeiros pastores e líderes, preocupados com o bem espiritual e social deste querido povo nordestino. Dentre eles, destacaria o 20º Bispo de Olinda – Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira e o VI Arcebispo de Olinda e Recife – Dom Hélder Pessoa Câmara, de quem você é sucessor como Bispo de Salde (na Argélia). E, coincidentemente, auxiliar na arquidiocese que honrosamente guarda sua memória como bom pastor que foi. Ambos os beatos, com seus processos de beatificação e canonização em andamento. É exatamente na Catedral de Olinda, que guarda os restos mortais de Dom Hélder, que você é apresentado para sua nova missão na Igreja.
Gostaria de expressar a gratidão desta Igreja arquidiocesana pelo seu confiante e desprendido SIM ao chamado da Igreja. Agradecer, igualmente, a sensibilidade do papa Francisco em atender ao nosso apelo de um novo bispo auxiliar, após a transferência de Dom Antônio Tourinho Neto para a nova Diocese de Cruz das Almas, na Bahia. Também a Dom Francisco Lucena – Bispo Diocesano de Nazaré da Mata e todo o seu presbitério, pela entrega deste irmão para o serviço episcopal nesta nossa arquidiocese. Se já somos igrejas mãe e filha, a partir de agora seremos, inevitavelmente, igrejas irmãs, e como tal nos ajudaremos mutuamente. Agradecer ainda aos seus familiares e amigos que ficarão saudosos deste filho, irmão, tio, primo, amigo e companheiro. Dentre esses, gostaria de destacar a pessoa de sua querida mamãe – a senhora Maria José da Silva, aqui presente, e seu pai José Antônio da Silva, que já se encontra na glória de Deus. Posso assegurar a todos que Dom Limacêdo ganhará aqui uma nova e grande família, conforme garante o Evangelho para todo aquele que deixa pai, mãe irmãos e parentes por causa d’Ele e do Reino (Mc 10, 28-31). Não tenho dúvidas de que, como em sua terra natal, conosco será feliz, respeitado e amado.
A Constituição Dogmática Lúmen Gentium do Concílio Vaticano II, dedica todo o capítulo III ao ministério episcopal, e assim afirma: “Jesus Cristo, Pastor Eterno, fundou a santa Igreja, enviando os Apóstolos, assim como Ele mesmo fora enviado pelo Pai (cf. Jo 20,21). E quis que os sucessores dos Apóstolos, isto é, os bispos, fossem em sua Igreja, pastores até a consumação dos séculos”. A missão do pastor, portanto, nos três graus do sacramento da ordem e, sobretudo do bispo, é apascentar o rebanho do Senhor tendo como modelo Jesus Cristo, o Pastor dos pastores. E nessa missão se preocupar especialmente com as ovelhas tresmalhadas”. Neste sentido, vale a pena recordar as palavras do Papa Francisco no Rio de Janeiro, aos bispos do CELAM. Ele retomou o que teve ocasião de dizer em Roma, aos Núncios Apostólicos, sobre os critérios a seguir ao preparar as listas dos candidatos ao serviço episcopal: “Os bispos devem ser pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos; homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior, quer a pobreza exterior com simplicidade e austeridade de vida; homens que não tenham psicologia de príncipes; homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra; homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhe foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido. Vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o ameaçam, mas, sobretudo, para fazer crescer a esperança; que tenha sol e luz no coração”. E concluiu: “O lugar do bispo para estar com o seu povo é triplo: ou à frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se atrase mas também, e fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o seu faro para encontrar novos caminhos.”
Consciente do privilégio do chamado e ao mesmo tempo seguro das responsabilidades dele decorrente, nosso bispo auxiliar escolheu por Lema, “Verbum caro factum est” (João 14). Com esse lema, a exemplo do próprio Jesus Cristo, Dom Limacêdo deseja armar sua tenda no meio de nós, inculturando-se às realidades diversas que fazem parte de nossa história e sendo um conosco, buscando sempre caminhar na unidade e na solidariedade. É no serviço a Jesus Cristo, que se apresenta na face de todo aquele que sofre, que o bispo se sente chamado a exercer o seu múnus. Onde está o bispo, presente está a certeza do poder/serviço, conferido por Jesus à sua Igreja.
Concluo externando, mais uma vez, a minha e nossa alegria, enquanto Arquidiocese de Olinda e Recife, em receber este nosso já tão querido irmão – Dom Limacêdo, para caminhar conosco. Caminhemos na unidade e total fraternidade para o nosso bem e, sobretudo, para o bem do nosso amado povo. E que Deus nos dê sabedoria e força para continuar edificando sempre mais a Igreja de Jesus Cristo confiada aos nossos cuidados espirituais e pastorais, na alegria e no compromisso missionário.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife.
Olinda, 30 de junho de 2018.