Localizada na América Central, a República da Nicarágua é um país no qual vivem cerce de 5,7 milhões de habitantes. Sua população é adepta basicamente de duas religiões: catolicismo (74,1%) e protestantismo (16,9%). Apesar da distância, a Nicarágua possui elementos em comum com o Recife. O país tem como santa padroeira Nossa Senhora da Imaculada Conceição, bastante festejada no dia oito de dezembro. Nesta quarta-feira, o arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, recebeu em audiência o cidadão nicaraguense Pedro Edgardo Tablada Corrales, que reside no Recife há trinta anos. Tablada veio para o Brasil por questões de sobrevivência, devido à guerra que se instalou na Nicarágua nos anos 1980. Em Pernambuco, Pedro Tablada formou-se em Engenharia, constituiu família, mas não deixa de preocupar-se com a situação de sua terra natal, onde residem sua mãe,  Maria Anselma de Corrales Tablada, de 85 anos e oito  de seus doze irmãos. O nicaraguense veio visitar o arcebispo para pedir que sejam intensificadas as orações por seu povo, que vem sofrendo sérias violações de direitos humanos por parte do governo de Daniel Ortega. Desde abril, mais de 280 jovens foram violentamente assassinados pelas forças paramilitares do governo Ortega e a Igreja Católica na Nicarágua, na figura do cardeal Leopoldo Brenes, vem tentando estabelecer um caminho de pacificação e diálogo.

Tablada explica que o caso da Nicarágua extrapola as fronteiras da religião, é um caso humanitário. “Soubemos do episódio que envolveu a família de um pastor protestante que se opôs ao regime Ortega e a casa foi incendiada com o pastor e toda a família Pavón dentro, ocasionando a morte de todos”, destaca preocupado. Acompanhado por seu amigo Múcio Dourado, o engenheiro dialogou com dom Fernando Saburido. O metropolita expressou que espera que o diálogo conduzido pela igreja católica da Nicarágua seja instrumento para alcançar a paz do povo nicaraguense. O arcebispo prometeu incluir esta intenção nas celebrações da Arquidiocese e estende este pedido ao clero arquidiocesano e povo de Deus, para que todos possam rezar pelo reestabelecimento da paz e da garantia de direitos na Nicarágua.

De acordo com Tablada, diariamente o papa Francisco tem sido informado da situação da Nicarágua. O engenheiro acompanha os cenários desafiadores na Nicarágua tanto por telefone como ouvindo a rádio local da Nicarágua, via internet. “A mortandade de jovens é tamanha, que ouvi a rádio local pedindo doação de caixões para sepultar os jovens assassinados”, relata. Para Tablada, o sonho de todo nicaraguense é ver o país livre, verdadeiramente democrático e onde as pessoas possam conviver em plena paz.

Managua 10 de Mayo 2018 Planton de jovenes univesitarios en protestas hacia el gobiernos por ataques y muertos el pasado Abril, en las afueras de la UCA. Foto Jader Flores/ LA PRENSA

O estopim para a onda de manifestações foi um decreto de 16 de abril para reformar a Previdência Social, que aumentava a contribuição dos trabalhadores de 6,25% para 7% do salário, enquanto os empregadores pagariam 22,5% (antes contribuíam com 19%). Os aposentados teriam que contribuir para o INSS com 5% do valor que recebem. O decreto acabou revogado devido à reação popular.

A Previdência está ameaçada de falência por um déficit estimado em US$ 75 milhões. As primeiras manifestações pacíficas de jovens estudantes universitários na capital nicaraguense Manágua, foram reprimidas pelos grupos de choque da Juventude Sandinista e, posteriormente, pela polícia, o que fez com que outros setores aderissem ao protesto.

Apesar de sua origem de esquerda como comandante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que liderou a última revolução armada na América Latina, em 1979, na sua volta ao poder em 2007, Ortega se aliou a antigos adversários conservadores, à elite empresarial reunida no Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep) e a setores dirigentes da Igreja Católica. Entretanto, com o início do ciclo de protestos neste ano, o Cosep e a Igreja se distanciaram do presidente.

Cardeal Leopoldo Brenes lê carta dos bispos da Nicarágua

Bispos da Nicarágua trabalham pela retomada do diálogo nacional – Reunido em Manágua, o episcopado guiado pelo cardeal Leopoldo José Brenes Solórzano vem tentando estabelecer um canal de diálogo e pacificação com o governo da Nicarágua. Em 15/06/18, mais uma carta dos bispos foi enviada ao chefe de Estado.  A carta reúne as expectativas de vários setores da sociedade e da maioria da população nicaraguense, buscando um consenso que responda aos anseios de justiça, democratização e paz das pessoas.

Segundo o jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, os bispos da Nicarágua receberam o apoio do Secretariado Episcopal da América Central que, num comunicado, expressa “total apoio e solidariedade neste momento doloroso”, enfrentado com “coragem e firmeza” em defesa do povo. “Vocês não estão sozinhos, podem contar com as orações, a solidariedade e a proximidade de seus irmãos no episcopado da América Central”, conclui o texto.

ENTENDA O CASO – Daniel Ortega, o atual presidente da Nicarágua, foi presidente de seu país entre 1985 e 1990. Voltou ao cargo em 2006 e foi reeleito em 2011 e 2016. No país não há limite de mandatos. Ortega é membro da Frente Sandinista de Libertação nacional (FSLN) desde 1962.

Com o triunfo da Revolução Sandinista contra o ditador Anastasio Somoza Debayle, em 17 de junho de 1979, Ortega integrou a Junta do Governo de Reconstrução Nacional, onde assumiu os cargos de coordenador, chefe do Governo e ministro da Defesa. Em 1984, Ortega foi eleito presidente da República pela primeira vez e seu primeiro mandato foi caracterizado por uma controversa política de reforma agrária e distribuição de riquezas, além da atuação dos Contras (grupos contrários a seu governo, financiados indiretamente pelos Estados Unidos), conforme ficaria mais tarde evidenciado no escândalo Irãs-Contras. Ortega foi derrotado por Violeta Chamorro nas eleições de 1990, mas continuou sendo uma figura importante no cenário político da Nicarágua. Disputou outras duas eleições sem sucesso, em 1996 e 2001, antes de ser novamente eleito presidente em 2006. Em 2011, foi reeleito presidente, e novamente, em 2016, com mais de 70% dos votos.

(Fonte e fotos: sites Vativan News e O Globo/ Pascom Arquidiocese)

https://oglobo.globo.com/mundo/nicaragua-governo-oposicao-destravam-dialogo-em-crise-politica-22727388