O integrante da equipe de comunicação do site Jovens Conectados, do Setor Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Lucas Monteiro, tem acompanhado a peregrinação dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude pelo Brasil e, escreveu um artigo sobre a visita à Fundação de Atendimento Socioeducativo, em Abreu e Lima, e à Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, para a revista Godzine, do setor juventude de Portugal. O artigo intitulado ‘”Estive preso e fostes me visitar” E outros também foram?’ Pode ser lido acessando o link. O texto encontra-se nas páginas 18, 19 e 20. São os frutos e experiências do Bote Fé Recife. E que eles possam renovar a nossa juventude para que unidos possamos resgatar os nossos jovens de situações de exclusão e morte como aquelas encontradas nas unidades prisionais.

 

“Estive preso e fostes me visitar.” E outros também foram?
por Lucas Monteiro 


 

Tive uma oportunidade de ouro em ja­neiro: ver uma situação que o Brasil pós­-JMJ terá para administrar.

Esse ‘feedback’ (se me permitem assim nomeá-lo), veio na peregrinação dos sím­bolos da JMJ em Pernambuco.

Até então, com raros momentos, eu só tinha acompanhado a festa em torno aos símbolos. Os jovens, os testemunhos, a emoção de receber tais presentes do Beato João Paulo II nas suas dioceses, ci­dades, até mesmo para os de mais sorte, nas suas paróquias.

Em Pernambuco, fui com os símbolos em dois presídios: Barreto Campelo, na cidade de Ilha de Itamaracá, e a FUNASE (para menores infratores) na cidade de Abreu e Lima, ambas na Arquidiocese de Olinda e Recife.

No dia anterior, acompanhei a festa dos jovens com os símbolos, lotando o Mar­co Zero do Recife em plena segunda-feira (realmente de surpreender). No outro dia, fomos aos presídios.

No Barreto Campelo, nós entramos com os símbolos no presidio e, chegando em um certo ponto passamos simbolicamen­te a custódia deles para os detentos. Fi­zeram um momento de partilha e oração em frente à capela, com cantos, poesias e momentos de partilha, pelas autoridades publicas, membros da Pastoral Carcerária e por alguns detentos que espontanea­mente se manifestaram.

Mas aí não ficamos apenas ali na capela. Com os símbolos, entramos em todas as áreas do presidio. De certa forma, as con­dições ali infelizmente dificultam ainda mais qualquer trabalho de ressocializa­ção que se possa promover. E isso não é exclusividade apenas desse presidio, mas de muitos Brasil afora. Em uma entrevis­ta, o presidente do Supremo Tribunal Fe­deral (equivalente ao Supremo Tribunal de Justiça, em Portugal), ministro Cezar Peluso, disse que a taxa de reincidência no Brasil chega a 70%. Ou seja, 7 em cada 10 libertados voltam ao crime. É um dos maiores índices dos mundo. – conclui. (fonte: site Última Instância).

Imaginem o legado social que temos, a nossa responsabilidade perante a socie­dade para diminuir essa taxa de reinci­dência.

Porém, a visita que mais me impressio­nou, sem dúvida, foi na FUNASE.

Fundação de Atendimento Socioedu­cativo. Uma vez, nessas andanças pelo Brasil, me comentaram que “o olhar cura”. Porém, aqueles jovens tinham um olhar que, eu não consigo achar outro adjetivo senão olhar de “derrota”. Jo­vens que perderam a juventude, que es­tão reclusos. Muito provavelmente tem a família desestruturada, não recebe­ram formação adequada (digo educação e orientação), não tiveram oportunida­des senão aquelas que o crime oferece. São detidos, cumprem as suas penas, saem de lá e, por vezes, não encontram oportunidades para praticar a ressociali­zação. A nossa sociedade recrimina pes­soas que foram presas, não dá oportuni­dades para que saiam da vida do crime. Constato que nós, enquanto sociedade, não estamos preparados para direcionar esses jovens. Não porque precisamos de que alguém nos prepare mas nós, enquanto sociedade, devemos acordar para essa realidade.

Penso – opinião pessoal – que a taxa de reincidência pode diminuir muito se nós favorecermos a dignidade humana. Não abrir mão da justiça, dos instrumentos legais que temos, mas ter segurança com assistência social. Se nós chegamos a esse ponto critico foi por anos de descaso com a nossa juventude. Fomentar a cul­tura, não uma cultura alheia à realidade deles, porque há manifestação cultural nos rincões mais esquecidos pela nossa sociedade e, por vezes, uma cultura be­líssima! Estar do lado da juventude, que logo sucederemos a essa geração que aí está. Que rumos queremos para o nosso Brasil? O que, com as peculiaridades de cada região, podemos fazer para pensar o Brasil?

A JMJ, em si, deixará um legado para o nosso país. E eu tive a oportunidade de ver um pouco dele há um ano e meio dela acontecer.


Para acessar o conteúdo da revista God Zine, clique no link abaixo: 
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Da Assessoria de Comunicação AOR