A maior parte do tempo das quatro longas sessões de trabalho desta quinta-feira, 12 de abril, será preenchida pela reflexão dos bispos – em grupo e em plenário – sobre o tema central da assembleia da CNBB deste ano: diretrizes para formação dos padres. Os bispos retomam o texto encaminhado pela comissão constituída para o fim específico de preparar o material de trabalho.

A Comissão de estudos é coordenada pelo arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB. Ele falou, na Entrevista Coletiva desta quarta-feira, 11 de abril a respeito da razão que levou os bispos a escolherem essa temática: “a Congregação do Clero publicou um documento, a Ratio Fundamentalis, para a formação do Clero em termos universais. E temos o Magistério recente da Igreja. A partir desses elementos, foi pedido que atualizássemos as nossas Diretrizes”.

O texto

Organizado em três partes, o texto que os bispos usam para reflexão e aprofundamento do tema trata de coordenadas gerais para a formação dos padres e, em sintonia com as Diretrizes já existentes, traz dois capítulos de grande importância explorando as necessidades, objetivos e orientações para o tempo que os candidatos ao sacerdócio passam nos seminários, o que é chamado de “formação inicial” e o tema da “formação permanente” no qual se considera a contínua necessidade de maior compreensão dos padres diante da vida humana, da história e da cultura.

Cardeal Sergio da Rocha, em entrevista concedida na semana passada à Secretaria de Comunicação da Santa Sé, ao se referir ao tema central desta assembleia recordou: “A Igreja tem trabalhado com vários aspectos da formação. Quando nós falamos de formação integral é porque não falamos apenas dos estudos. Tem gente que pensa, às vezes, na formação dos estudos. É claro que eles merecem uma atenção na formação dos presbíteros, mas não bastam os estudos. Eles são importantíssimos, mas temos a formação humano-afetiva, formação espiritual, formação comunitária, formação pastoral. São os vários aspectos da formação que nos seminários, nós estamos trabalhando cada vez mais, mas depois de ordenados é preciso cultivar”.

Formação permanente

No Documento da Santa Sé, citado por dom Jaime Spengler, a Ratio Fundamentalis, há uma recomendação importante: “É importante que os fiéis possam encontrar sacerdotes adequadamente maduros e formados: de fato, a este dever ‘corresponde um preciso direito dos fiéis sobre os quais recaem, positivamente, os efeitos da boa formação e da santidade dos sacerdotes’. A formação permanente deve ser concreta, isto é, encarnada na realidade presbiteral, de maneira que todos os presbíteros possam, efetivamente, assumi-a, atendendo a que o primeiro e principal responsável pela formação permanente é o próprio sacerdote” (n.344).

Dom Jaime, em entrevista concedida ao Portal Canção Nova, afirmou que os novos presbíteros a serem buscados pela Igreja no Brasil precisa ter as seguintes características: “Homens verdadeiramente apaixonados pelo Evangelho do crucificado/ressuscitado, homens entusiasmados pela proposta do Reino e por isso capazes de se lançar generosamente no trabalho apostólico”.

Coletiva

Na primeira coletiva de imprensa da 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na tarde desta quarta-feira, 11, no Centro de Evento Padre Vitor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP), Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, falou das novas diretrizes para a formação dos presbíteros na Igreja do Brasil, tema central da Assembleia.

Dom Jaime explicou aos jornalistas que o objetivo da CNBB é adaptar as diretrizes em vigor, aprovadas em 2010, a partir das novas orientações da Congregação para o Clero intitulada Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, publicada em 2016, levando também em conta o recente magistério do Papa Francisco.

Segundo o Arcebispo foi designada pelo conselho Permanente uma Comissão Especial para trabalhar uma proposta de texto para ser apresentado aos bispos e trabalhado ao longo na Assembleia.

O texto aborda a chamada formação inicial dos presbíteros, isto é, o período dos seminários que prepara os candidatos ao sacerdócio, mas também trata da formação permanente dos padres. “O documento abrange toda a vida do presbítero, desde que ele se apresenta como um possível candidato ao seminário até o momento de sua morte”.

Perguntado pelos jornalistas sobre o que mudaria na formação presbiteral com as novas diretrizes, Dom Jaime esclareceu que não se tratará necessariamente de mudanças, mas adaptações às transformações da sociais e culturais que influenciam os candidatos aos ministério ordenado. “Os tempos mudam, e as exigências são novas. Novos tempos exigem adequações no processo”.

Ainda de acordo com o Arcebispo, é sentida pelo episcopado, por exemplo, a realidade de muitos candidatos ao sacerdócio que vêm da realidade urbana, ao contrário do passado, quando a maioria dos vocacionados eram provenientes do mundo rural. Muitos também entravam no seminário muito jovens e até crianças, enquanto hoje a maioria dos candidatos iniciam a formação presbiteral na idade adulta. “Essa situação traz consigo desafios à formação. Muitas vezes, uma formação deficiente no ensino fundamental, médio”

Dom Jaime apontou, ainda, situações de candidatos que vêm de situações familiares difíceis que repercutem nos seminários. “Precisamos ir ao encontro desses jovens a fim de colaborar para que possam crescer no seu processo formativo e na sua formação de forma sadia”, destacou.

“Hoje nós acentuamos muito no processo formativo um acompanhamento personalizado de cada candidato. Talvez esse seja um dos aspectos aos quais devemos dar uma atenção especial”, acrescentou o Presidente da Comissão.

O texto que será trabalhado na Assembleia é a terceira versão elaborada pela Comissão do Tema Central, após receber as contribuições de bispos de todo o país. As diretrizes passarão por novas avaliações do episcopado antes de serem submetidas à aprovação.

Site CNBB