ABERTURA
NOVO ANO LITÚRGICO
Tempo do Advento
ANO DA VIDA CONSAGRADA
(30/11/14 a 02/02/16)
ANO DA PAZ
(30/11/14 A 25/12/15)
Caríssimos irmãos e irmãs,
Neste primeiro domingo do Advento de 2014, quando iniciamos o novo Ano Litúrgico, Ano B, de São Lucas, o Santo Padre, o Papa Francisco, nos convida a iniciar um ano dedicado à Vida Consagrada. Ano este que se estenderá até o dia 02 de fevereiro de 2016, com a celebração da Apresentação do Senhor e o Dia Mundial da Vida Consagrada. Também a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em sua 52ª Assembleia Geral, em maio deste ano, aprovou, por unanimidade, a realização de um “Ano da Paz”, para as Igrejas do Brasil, no período que se estende de 30 de novembro de 2014 até o Natal de 2015.
A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, do Vaticano, apresentou, em fevereiro deste ano, a carta “Alegrai-vos”,destinada a todos os consagrados e consagradas, em preparação para o Ano da Vida Religiosa. O cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação, explicou o significado do título da carta “Alegrai-vos”. “O sentido deste título é maravilhoso porque a nossa vida deve ser expressão de uma grandíssima alegria. Para ser um consagrado ou consagrada triste, é melhor que não o seja. Devemos encontrar essa alegria não só fora, mas no nosso interior”, disse.
No último mês de maio, por ocasião daconclusão da 82ª Assembleia Geral da União dos Superiores Gerais (USG), em Roma, o Papa Francisco,ao anunciar o Ano da Vida Consagrada, afirmou que a radicalidade é pedida a todos os cristãos, mas os religiosos e religiosas são chamados a seguir o Senhor de uma forma especial. “Eles são homens e mulheres que podem acordar o mundo. A vida consagrada é uma profecia”. Durante o diálogo, Francisco insistiu sobre a formação, que, em sua opinião, deve ser baseada em quatro pilares: espiritual, intelectual, vida comunitária e apostólica. “É essencial evitar todas as formas de hipocrisia e clericalismo, através de um diálogo franco e aberto sobre todos os aspectos da vida”. Francisco destacou também que a formação é uma obra artesanal e não um trabalho de policiamento. “O objetivo é formar religiosos que tenham um coração terno e não ácido como vinagre”, alertou. Sobre a relação das Igrejas Particulares com os religiosos, o Papa disse conhecer bem os problemas e conflitos. “Nós, bispos, precisamos entender que as pessoas consagradas não são um material de ajuda, mas são carismas que enriquecem as dioceses”. Ao falar sobre os desafios da missão dos consagrados, o Pontífice destacou que como prioridades permanecem as realidades de exclusão, a preferência pelos mais pobres. Destacou também a importância da evangelização no âmbito da educação, como nas escolas e universidades. “Transmitir conhecimento, transmitir formas de fazer e transmitir valores. Através destes pilares se transmite a fé. O educador deve estar à altura das pessoas que educa, e interrogar-se sobre como anunciar Jesus Cristo a uma geração que está mudando”. No final do encontro, Francisco agradeceu aos superiores gerais pelo “espírito de fé e serviço” à Igreja. “Obrigado pelo testemunho e também pelas humilhações pelas quais vocês passam”, concluiu o Papa.
O Ano da Paz, por sua vez, que tem por lema “A paz é fruto da justiça” (Is. 32,17),propõe um período de reflexão e ação para a superação da violência em nosso país. “Precisamos ajudar a reconstruir relações de harmonia, amor, fraternidade e respeito”, disse o Cardeal Raimundo Damasceno, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB.
Iniciar algo é sempre ocasião oportuna para o enfrentamento de novos desafios que nos trazem sentimentos de esperança. A feliz coincidência da abertura do Ano da Vida Consagrada, assim como o Ano da Paz, com o início do novo ano litúrgico é ocasião oportuna para nos questionarmos sobre o nosso chamado e a maneira como estamos respondendo a ele. O primeiro domingo do Advento nos adverte a estarmos vigilantes para que “não suceda que o Senhor, vindo de repente, nos encontre dormindo”. O sono da acomodação, do indiferentismo, da falta de entusiasmo e esperança não pode fazer parte da vida do religioso e da religiosa. Foi livremente e com alegria que abraçamos o convite do Senhor para nos configurarmos a Ele através de uma vida totalmente entregue em suas mãos e disponível para fazer a sua vontade. Uma vez consagrado/a, não mais nos pertencemos, mas é o Senhor quem vai traçar o rumo da nossa vida. Precisamos então ser testemunhas corajosas da presença do Senhor em todas as localidades onde vivemos ou nos encontramos. O profeta Isaías, na primeira leitura, inicia o seu texto com a prece: “Senhor, tu és nosso pai, nosso redentor; eterno é o teu nome”. E questiona: “Como nos deixaste andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações para não termos o teu temor?” É chegado o momento, portanto, de voltar para os braços do Pai, como filhos carentes e desejosos de um colo amigo.
Nossa Arquidiocese de Olinda e Recife conta com uma presença bastante significativa da vida religiosa e, como pastor desta Igreja particular e religioso beneditino, gostaria de testemunhar minha alegria por esta significativa presença e dizer de nossa disposição de reconhecer e respeitar os diversos carismas, tanto da vida contemplativa quanto missionária. Entendemos e valorizamos o papel de cada religioso e religiosa diante da responsabilidade, pessoal e comunitária, na edificação do Reino de Deus. É nosso desejo estreitar cada vez mais nossos laços fraternos, através de uma ação pastoral conjunta, articulada e participativa, onde possamos colocar em comum os dons recebidos. Gostaria muito de sentir a presença, cada vez mais intensa, da vida religiosa nas grandes frentes de trabalho que realizamos nos âmbitos arquidiocesano, vicarial e paroquial. No momento em que estamos celebrando o primeiro ano da aprovação e implantação do nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral, é muito bem vindo o Ano da Vida Consagrada, que só faz estreitar e reforçar o nosso compromisso comum de viver e anunciar o Evangelho.
Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Vita Consecrata”, o então Papa João Paulo II afirma: “No nosso mundo, onde frequentemente parece terem-se perdido os vestígios de Deus, torna-se urgente um vigoroso testemunho profético por parte das pessoas consagradas. Tal testemunho versará, primeiramente, sobre a afirmação da primazia de Deus e dos bens futuros, como transparece do seguimento e imitação de Cristo casto, pobre e obediente, voltado completamente à glória do Pai e ao amor dos irmãos e irmãs.A própria vida fraterna é já profecia em ato, numa sociedade que, às vezes sem dar conta, anela profundamente por uma fraternidade sem fronteiras. Às pessoas consagradas é pedido que ofereçam o seu testemunho, com a ousadia do profeta que não tem medo de arriscar a própria vida” (n. 85).
Num mundo que coloca sua segurança nos bens temporais e no poder, além das vaidades que se manifestam de várias formas, sobretudo, na exagerada preocupação com a aparência,uma sociedade que exclui e discrimina os pobres, os índios, os idosos e pessoas com deficiência; uma população que convive com a falta de honestidade, na gestãodos bens públicos, utilizando-os de maneira irresponsável, em seu próprio benefício ou de terceiros; finalmente, filhos e filhas que renegam ou abandonam sua fé e os valores espirituais, precisam bastante do testemunho profético dos religiosos e religiosas que vivem, por causa do Reino de Deus, os conselhos evangélicos, com plena liberdade e alegria, vendo neles a verdadeira riqueza que é Dom de Deus. Dizia o Papa Bento XVI: “Caminhar seguindo os sinais de Deus significa experimentar a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (“Porta Fidei”, n. 2).
Concluo, rendendo graças a Deus, pela inspiração do Ano da Vida Consagrada e do Ano da Paz. Faço apelo a todos os consagrados e consagradas para que esse seja um ano realmente motivador,que nos faça crescer na unidade e na fraternidade, para que sejamos cada vez mais: uma “Igreja em saída”, sensível aos problemas dos mais necessitados e pobres; uma Igreja em estado permanente de missão, com característica profética e, incansavelmente, disponível para o outro; uma Igreja que viva e anuncie a paz, reforçando a dimensão ecumênica e combatendo as injustiças com firmeza e fidelidade; uma Igreja, finalmente, que seja orante e cumpridora do seu dever, com ministros ordenados, consagrados e consagradas, leigos e leigas, alegres e vibrantes com a missão que o Senhor lhes confiou.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Olinda, 30 de novembro de 2014.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife