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“Manifestou-se a benignidade e o amor de Deus, nossa Salvação, para toda a humanidade” (Carta de Paulo a Tito 3, 4).

No fim do mês de novembro, a Igreja deu inicio ao tempo do Advento, primeiro ciclo do ano litúrgico. É um período de preparação, de alegria, de expectativa e de esperança, onde os fiéis, se organizam para comemorar o Nascimento de Jesus Cristo. A celebração do Advento é, portanto, um tempo precioso para vivermos a plena realização do projeto divino para esse mundo que vive a manifestação de Jesus, nosso Salvador, nas nossas vidas e na natureza.

Enquanto isso, em Paris, governantes e representantes de organizações internacionais estiveram reunidos na última semana de novembro, na Cúpula da ONU, para discutir e encontrar soluções para as mudanças climáticas e saída  para o aquecimento global e a crise ecológica que fere a Terra. Para o papa Francisco, em sua carta encíclica,  Laudato si, nossa casa comum, o planeta pode ser comparada a uma irmã e a uma boa mãe que clamam contra o mal que provocamos ao  livro da natureza, porque é uno e indivisível.

De fato, o Papa insiste que não adianta contemplarmos a presença de Jesus em nossos presépios no Natal, se não aprendermos a vê-lo na natureza. É lamentável, quando contemplamos a criação que sofre a ação depredadora da sociedade, como a água que corre nos rios poluídos, os animais e as plantas. O papa, na encíclica, “Laudato si” convoca a humanidade “a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater esse aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam”.

Nesse Advento, recomendo a todos os irmãos e irmãs da arquidiocese, padres, religiosos/as e leigos/as que ainda não leram a encíclica Laudato si, que leiam o documento  para aprofundar e refletir o espírito desse Natal, na perspectiva do mistério do universo. Porque a “criação” é mais do que dizer natureza, ela tem a ver com o projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado. A natureza entende-se habitualmente como um sistema que se analisa, compreende e gere, mas a criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos abertas do Pai de todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal”, diz o papa na carta Laudato si.

Assim, o Filho de Deus ao entrar no mundo  assumiu a natureza humana, sua  realidade e na total comunhão com a humanidade e com todo o universo. No evangelho de São João vamos encontrar as mesmas palavras do livro do Gênesis “No princípio”. É com este termo fundador que o discípulo amado nos revela que a vinda de Jesus em nossa carne renova toda a criação. Nele está a Vida que é Luz para todo ser humano nesse mundo, como sinal e testemunha do amor divino para toda a criação. “O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas…”. Portanto,  o evangelista São João, nos remete à vida  que é luz. Ele, Jesus, é a luz dos homens e a vida dos homens. E deste modo quando se diz vida, pode dizer-se: Jesus, o Salvador do mundo nos concedeu a vida e a luz. Ele disse: eu sou a luz do mundo, eu sou a vida. Essa vida existe no Verbo de Deus de uma maneira inseparável, e existe juntamente desde que foi feita por Ele.

É com esse espírito universal que o Santo Padre Francisco, na Bula de promulgação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em comemoração aos 50 anos do Concilio Ecumênico Vaticano II, estabeleceu que, após o rito de abertura da Porta Santa ou Porta da Misericórdia, na Basílica de São Pedro, dia 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição, deu inicio solene ao Ano Santo.  No domingo 13 de dezembro, em cada Igreja particular, na catedral que é a Igreja-mãe, nos santuários ou outras igrejas de grande acesso de fiéis, se abra igualmente o Ano Santo, uma porta da Misericórdia.

Assim, cada Igreja particular estará diretamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e de renovação espiritual. É neste sentido que o  Papa Francisco tem insistido de que, principalmente, nós cristãos e membros da Igreja, sejamos instrumentos da vida, do  amor compassivo de Deus para com todos.

No começo desse Advento, o Santo Padre visitou três países da África. Na capital da República Centro-africana,  decidiu antecipar o dia que ele mesmo havia estabelecido como início do Jubileu, no dia 8 de dezembro, abrindo a porta da Catedral da cidade de Bangui, como Porta da Misericórdia em um país ferido pela guerra e pela pobreza. Ao insistir em que o Jubileu seja celebrado em cada diocese, o Papa retoma o ensinamento do Vaticano II sobre o fato de cada Igreja local ser plenamente Igreja em comunhão com a Igreja Universal. Neste 13 de dezembro, com imensa alegria, estaremos abrindo a “Porta Santa” na Catedral de Olinda. O sucessor de Pedro propõe que toda Igreja Católica assuma um espírito mais sinodal e participativo. Para nós, isso é um exemplo e deve ser colocado em prática em cada paróquia e comunidade.

Na Bíblia, a misericórdia é a expressão de um amor que vem do íntimo de Deus. Então, misericórdia não significa apenas ter uma atitude de pena ou piedade por alguém que sofre, mas tomar como princípio de vida, conduta permanente de cuidado solidário e atencioso em relação a toda pessoa humana e mesmo a toda criação de Deus. A misericórdia, não pode ser apenas uma atitude ocasional, mas sim um princípio orientador de toda a nossa vida. Para quem tem ministério na Igreja, a misericórdia se expressará na forma de viver o ministério pastoral em uma permanente postura de diálogo com o povo e disponibilidade de servir.

É importante que a celebração desse Natal confirme que cada um/uma de nós é objeto da misericórdia divina. Que essa boa notícia nos encha de alegria, nos fortaleça na luta da vida e nos torne sempre mais testemunhas e instrumentos da misericórdia divina para nossos irmãos e irmãs.

Invocando sobre cada um e cada uma de vocês a benção divina, desejo que esse Advento e Natal sejam para vocês o Tempo da Misericórdia.

 

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife