Nossa missão é viver como doação permanente

Na Igreja Católica, o mês de outubro é sempre considerado o “mês das missões” porque, desde 1926, o penúltimo domingo de outubro (nesse ano, será o dia 21) é considerado o “dia mundial das missões”. Para esse ano de 2018, a Campanha Missionária, promovida pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM), com a colaboração do COMINA (Conselho Missionário Nacional), traz como tema: “Enviados para testemunhar o Evangelho da paz”. O objetivo da campanha missionária é sensibilizar, despertar vocações missionárias e realizar a coleta em favor das missões que a Igreja mantém em todo o mundo.

O tema desse ano nos chama atenção para três pontos importantes:

1) somos todos, homens e mulheres, enviados pelo Pai ao mundo.

2) a missão tem como objetivo “testemunhar”. Ela se alicerça mais em um modo de ser e viver. A missão é, principalmente, testemunho. Só a partir do testemunho, pode vir a palavra. E essa palavra é não apenas uma doutrina e sim o evangelho (boa notícia) da Paz.

3) O destino da missão não é apenas religioso e sim de contribuir para que toda a humanidade tenha Paz, isso é, uma organização social justa, no respeito e cuidado com a Terra e a natureza.

Essa perspectiva de missão ainda é nova e, para muitos, estranha. Nas praças de nossas cidades, irmãos e irmãs, cheios de ardor missionário, com a Bíblia nas mãos, pregam para quem passar ali a conversão a uma determinada Igreja, como se a missão consistisse apenas nisso. E mesmo em algumas emissoras de rádio e televisão, ainda há resquícios de uma noção de missão como se a Igreja existisse por si mesma e para si mesma. Desde a sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, o papa Francisco nos pede para vivermos uma Igreja em saída (E.G.41). É o mesmo que há 50 anos, a 2ª Conferência Geral do episcopado latino-americano em Medellín propunha: “uma Igreja missionária e pascal, a serviço da libertação de toda a humanidade e de cada ser humano por inteiro” (Med 5, 15).  

Para vivermos isso no concreto da vida, a missão não pode ser apenas uma atividade. Tem de ser um estilo de vida, ou modo de sermos permanentemente. Para confirmar isso, na sua mensagem para o dia das missões de 2018, o papa Francisco dirigiu especialmente aos jovens e lhes escreveu: “Viver com alegria a própria responsabilidade pelo mundo é um grande desafio. Conheço bem as luzes e as sombras de ser jovem e, se penso na minha juventude e na minha família, recordo a intensidade da esperança por um futuro melhor. O fato de nos encontrarmos neste mundo sem ser por nossa decisão faz-nos intuir que há uma iniciativa que nos antecede e faz existir. Cada um de nós é chamado a refletir sobre esta realidade: «Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo» (E. G. 273)”.

É só a partir dessa consciência e dessa responsabilidade que, como cristãos, maduros em Cristo, podemos viver a missão de “enviados para testemunhar o evangelho da Paz”. Que toda a nossa querida Igreja particular na Arquidiocese de Olinda e Recife viva esse espírito e ardor missionário.

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Metropolitano