(Palavras  do Arcebispo na abertura do Fórum Justiça e Paz

Dia 27 de outubro de 2017

Universidade Católica de Pernambuco)

 

Penso que as palavras são pobres para manifestar a minha alegria e satisfação por estarmos abrindo hoje esse 1º Fórum sobre Justiça e Paz. Esse evento marca um verdadeiro encontro da recém-fundada Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz e as bases de nossas comunidades, tanto católicas da nossa arquidiocese e de outras Igrejas Particulares, quanto outras denominações e grupos religiosos aqui presentes. 

É bom lembrarmos que estamos vivendo justamente o cinquentenário da iniciativa do papa Paulo VI de instituir, em janeiro de 1967, junto com o Conselho de Leigos, também o primeiro esboço do que depois viria a ser a Pontifícia Comissão Justiça e Paz. Foi o mesmo ano em que o papa Montini nos daria a preciosidade que foi a encíclica Populorum Progressio, sobre o desenvolvimento dos povos. Nós aqui da arquidiocese de Olinda e Recife sabemos o quanto o nosso querido Dom Helder Câmara esteve empenhado tanto na ideia de uma Comissão Justiça e Paz, quanto na proposta ao papa de uma encíclica sobre o desenvolvimento integral baseado na justiça e na paz.

Dois anos depois, em 1969, a CNBB instituiu a Comissão Nacional de Justiça e Paz, sob a presidência do Dr. Cândido Mendes de Almeida, irmão de Dom Luciano Mendes e com a participação do Dr. Alceu Amoroso Lima, nomeado pelo papa como membro da Pontifícia Comissão Justiça e Paz, no Vaticano.

Na primeira reunião da Comissão Nacional, o Dr. Alceu propôs três linhas de ação para a Comissão Justiça e Paz. A primeira seria na área de estudos e aprofundamento de questões que pudessem ajudar o nosso caminho de inserção no mundo e nos servissem para cumprir melhor a missão. A segunda linha seria de pronunciamentos e manifestações públicas que se fizessem necessárias, e finalmente a terceira linha de ação seria de mobilização de toda a Igreja no caminho da justiça e da paz (Cf. Cândido Mendes e Marina Bandeira, Comissão Justiça e Paz, de 1969 a 1995 – Edições EDUCAM, 1996).

De fato, esse fórum, que iniciamos hoje, parece reunir essas três atividades, a de escutar das bases os temas e questões que a Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz deverá aprofundar. Além disso, durante todo o dia de amanhã, os diversos grupos de trabalho poderão dizer que situações emergenciais a Comissão precisa começar a tratar desde agora para ajudar as pessoas e comunidades da nossa região metropolitana. Finalmente, é sempre importante insistir que a Comissão não pode nem quer substituir a ação de toda a nossa Igreja nessa área da Justiça e da Paz. A Comissão é para nos assessorar e nos ajudar a cumprir a missão de testemunhar o reino de Deus e sua justiça. Não é para fazer no nosso lugar. Nós não criamos na arquidiocese uma Comissão de Justiça e Paz para que os padres, religiosos e agentes de pastoral pudessem se desincumbir dos problemas e deixar tudo com a Comissão. Se fosse assim, seria melhor que nem a tivéssemos criado.

Demos graças a Deus de podermos contar com o testemunho maravilhoso do papa Francisco que não se cansa em insistir que a missão da Igreja é servir aos mais pobres no caminho da justiça, da paz e do cuidado com a Terra, nossa casa comum. É essa a perspectiva do que ele chama de ecologia integral e que une fé e justiça social. É o caminho mais profundo da comunhão com Deus: a solidariedade e no serviço aos mais pobres, com os quais Jesus se identificou. “O que fizerdes a um desses pequeninos em meu nome é a mim que o fazes” 

 

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB

Arcebispo de Olinda e Recife