Um dos vitrais que contam as sete dores de Nossa Senhora foi recuperado e já pode ser visto na igreja



Aos poucos, o painel foi tomando forma. Figuras geométricas, flores e, em meio aos milhares de pedaços de vidros, a reprodução da cena bíblica em que a Virgem Maria encontra o filho Jesus no templo de Jerusalém. Bastaram algumas horas da última sexta-feira para a Igreja de Nossa Senhora da Soledade, no Recife, ter de volta uma de suas relíquias de arte à mostra. Há dois meses, a peça – com nove metros de altura por um de largura – ficou sob os cuidados do vitralista Fernando Floriano, 50 anos. “O vitral é de uma riqueza de detalhes impressionante”, resumiu. A obra criada pela Casa Conrado, de São Paulo, data de 1920.

A peça mostra uma das chamadas sete dores de Maria. Cada dor está retratada num vitral. E a meta da Paróquia da Soledade é recuperar todos até o próximo ano. Há uma razão especial para isso, segundo o padre Nilson Lourenço da Silva. “Essa igreja foi planejada para destacar a beleza dos vitrais”, explicou. Os altares e as paredes laterais, por exemplo, contam com poucos adornos, prevalecendo um ar de sobriedade. Desde as cores do piso à textura cinza que recobre a fachada do templo. Os tons remetem à sepultura de Jesus.

Recuperar o colorido dos vitrais da Igreja da Soledade tem exigido atenção redobrada da equipe de Fernando Floriano. Os vitrais do templo são compostos aproximadamente, cada um, por 3,8 mil pedaços de vidro. “Muitos deles estavam quebrados e a malha de chumbo usada para uni-los estava danificada em diversos pontos”, revelou o vitralista. Para reconstituir uma das figuras humanas do painel, o artista recorreu à tinta (cor da pele) adquirida do antigo ateliê de Henry Moser, autor dos vitrais do Palácio do Campo das Princesas. No mundo, contou o vitralista, apenas quatro pessoas possuem essa tinta em sua fórmula original. Coube também a Fernando recuperar as criações de Moser no Campo das Princesas, bem como peças da Basílica de Nossa Senhora do Carmo.

O próximo passo do artista, que aprendeu o ofício com o falecido padre Geraldo Leite Bastos, é restaurar o vitral sobre a sétima dor da Virgem Maria. A obra figura o sepultamento de Jesus. Das sete peças, essa é a menor, medindo cerca de quatro metros quadrados. O vitral foi desmontado na quinta-feira.

Se a restauração dos painéis requer rigor técnico do artista, esforço também é cobrado da Paróquia da Soledade. O pagamento do trabalho do vitralista vem de pequenas atividades, a exemplo de bingos e rifas. O próximo bingo, acompanhado de feijoada, está previsto para 21 de agosto. Desse modo, a paróquia já conseguiu recuperar o piso e a pintura interna do templo. O investimento nos vitrais deve chegar a cerca de R$ 50 mil. R$ 7,2 mil é a média de gasto por peça. Por fim, adiantou padre Nilson Lourenço, a fachada da igreja será lavada. Pretende-se assim livrar as paredes da poeira e das pichações. E recuperar os aspectos originais do projeto idealizado por monsenhor Francisco Apolônio Jorge Salles, o primeiro pároco da Soledade, a partir de 1928, tendo permanecido ali por meio século.

Igreja Nossa Senhora da Soledade
Av. Oliveira Lima, 1029 – Boa Vista – Recife – PE
Tel./Fax: 3222-6836


Reportagem: Jailson da Paz
Imagem: FOTOS: MARCELO SOARES/ESP DP/D. A PRESS
Fonte: Diario de Pernambuco – 10/07/2011