O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, presidiu missa no Recife, nesta quinta-feira (21/05), na matriz de Nossa Senhora de Fátima, em Boa Viagem, às 9 horas da manhã. Concelebrada pelo bispo auxiliar, dom Limacêdo Antonio, e pelo pároco, padre Luciano Brito, que é também vigário geral da Arquidiocese, a missa foi transmitida ao vivo pela Rede Vida de Televisão, para todo o território nacional, tendo como intenção o fim da pandemia de Covid-19.

Estando do mês mariano, o arcebispo fez questão de rezar diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, pedindo a intercessão da Virgem Mãe a seu Filho. “Pedimos o fim da pandemia, consolo para as famílias enlutadas e sustento para os mais necessitados neste tempo tão difícil”, disse dom Fernando Saburido.
Conheça na íntegra o texto da homilia de dom Fernando Saburido:
Paróquia de Nossa Senhora de Fátima de Boa Viagem
Missa transmitida pela Rede Vida e Rádio Olinda
Recife, 21 de maio de 2020
(Atos 18, 1- 8 Salmo 97 (98) e Evangelho de João 16,1–20)
Começo esta homilia, agradecendo a iniciativa da Rede Vida de Televisão de transmitir hoje essa celebração aqui de Recife para todo o Brasil. Quando o diretor, Sr Neto, me telefonou propondo essa Missa, disse ser esta a forma encontrada pela Rede Vida de se solidarizar com o povo de Deus, nos Estados onde a Covid-19 tem atingido índices mais elevados de contaminação.
Quero saudar o nosso bispo auxiliar Dom Limacêdo Antônio, nosso vigário geral e pároco desta Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Pe Luciano Brito, os poucos irmãos e irmãs aqui presentes e os inúmeros irmãos e irmãs que estão nos acompanhando pela Rede Vida ou através da nossa Rádio Olinda.
O convite, previamente, feito para esta Celebração Eucarística, teve a intenção de nos congregar espiritualmente, em qualquer parte do Brasil onde nos encontramos, como uma só família, para juntos, pela força da unidade, nos animar na fé e nos encorajarmos mutuamente, diante da experiência difícil que estamos passando. Escutando o capítulo 16 do evangelho de São João, somos convidados a sentar à mesa com Jesus e seus apóstolos, e escutar suas Palavras no sermão de despedida. O clima, naquele momento, era de dor e sofrimento, sobretudo pela certeza da partida eminente do Mestre e a surpreendente notícia da infidelidade de Judas Iscariotis que o traiu e Simão Pedro que negou ser discípulo de Jesus. Obedientes, porém, à Palavra do Mestre, inicialmente todos passaram pela experiência da cruz, mas dentro de poucos dias, experimentaram a alegria da Páscoa. Também nós os discípulos de Jesus, hoje, precisamos aprender a fazer essa mesma experiência.
Cada vez que escutamos o Evangelho na celebração litúrgica é o próprio Cristo que nos fala hoje. É o próprio Cristo ressuscitado que, através desta celebração, diz para mim e para vocês todos que, mesmo sem poder estar, fisicamente, aqui conosco nesta Igreja, fazem do Brasil inteiro uma só comunidade litúrgica. É a nós todos que Jesus ressuscitado diz: “Por um pouco de tempo vós não me vereis, mais um pouco de tempo e me tornareis a ver porque eu vou para o Pai”.
De fato, diante de uma realidade terrível de sofrimento e dor como estamos enfrentando nesta pandemia, é normal que nos perguntemos: Onde está Deus que não nos socorre? Onde está Jesus que parece ausente? Ele não diz que estará ausente ou que deixará os discípulos. Ele fala apenas em tempos nos quais os discípulos não o verão e outro no qual eles voltarão a vê-lo. Não se trata de que Jesus tenha se ausentado, mas há tempos em que não o vemos e outros nos quais o podemos ver. E ele diz claramente: Em verdade, em verdade vos digo: chorareis e lamentareis e o mundo se alegrará. Ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria.
Parece que estamos vivendo nesta realidade e pandemia, um tempo assim de pranto e lamentação. A nossa fé não pode ser mágica e não podemos dar ao mundo uma imagem de um Deus cruel que castigaria a humanidade com uma praga como essa. Não podemos culpar Deus pelos males que a própria humanidade provoca. Nem acreditamos, por outro lado, em um Deus que magicamente possa intervir e acabar com todo o mal do mundo. Afinal, Deus não pode fazer o círculo quadrado, Ele respeita a ordem natural. Jesus rejeitou como tentação do diabo a ideia de transformar pedra em pão. Não podemos hoje cair na mesma tentação.
Quando o papa Francisco tem proposto oração, como fez na quinta-feira passada, dia 14, quando propôs a todas as pessoas, independentemente de religião, um dia de oração, ele sempre fala em oração pela humanidade. E nós oramos a Deus para nos dar forças, para iluminar os governantes e responsáveis pela saúde pública, de quem se espera decisões acertadas que visem o bem comum, e suscitar no mundo mais serviços de solidariedade. Nada de pensar Deus como causa do vírus, nem de imaginar que magicamente ele possa nos libertar disso.
Queridos irmãos e irmãs, esse Evangelho que escutamos agora contém essa boa notícia que Jesus nos dá ao prometer: Dentro de pouco tempo, me vereis de novo e aí a vossa tristeza se transformará em alegria.
O apelo que Jesus nos faz no evangelho é o de transformar o nosso sofrimento em dor de parto, isso é, fazer com que de tudo isso que estamos vivendo possa surgir uma vida nova. Nesse sentido, muitos pensadores tem concluído que, passada essa pandemia o mundo não mais será o mesmo. O Vaticano publicou um livro com o conjunto das alocuções e meditações do papa Francisco abordando o tema do mundo pós-pandemia. Convido vocês a lerem este livro com a assinatura do papa Francisco. Facilmente vocês o encontrarão na internet: A vida depois da pandemia.
É esta esperança de um mundo mais humano, menos desigual e menos injusto, com muito maior cuidado em respeitar a mãe Terra e a natureza que Deus criou, é tudo isso que colocamos aqui na patena e vamos agora oferecer a Deus como aquilo que prometemos nos esforçar para viver e aí sim a Eucaristia que fazemos aqui será profecia de um mundo como Deus quer que seja, um mundo que não provoque epidemias assim e, se por acaso, acontece, tenhamos uma sociedade baseada na solidariedade e que não facilitará a ocorrência de tantas mortes como, infelizmente, vemos agora no Brasil.
Hoje é o dia no qual, em todo o Brasil, muitos grupos católicos começam a novena de Pentecostes, pedindo a Deus a graça de manifestar em nós e no mundo a presença do Espírito Santo. Esta Eucaristia que agora oferecemos ao Pai é já sinal deste dom divino que recebemos. Amém!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife.

