“Sal da terra, luz do mundo” (Mt 5,13-14)

Brasão_Dom_Saburido

Convento dos Frades Franciscanos, em Ipuarana,
Lagoa Seca (PB), 21/10/15

Meus irmãos e irmãs,

É meu desejo que cada pessoa aqui presente sinta como é importante sua presença e, por isso, saiba o quanto é bem-vinda à 50ª. Assembleia Pastoral Regional. Este ano, nossa assembleia tem este tom jubilar, por estarmos celebrando os 50 anos do Regional Nordeste 2. Em 1964, por ocasião da 6ª. Assembleia Geral Ordinária da CNBB, realizada em Roma, durante o Concílio Ecumênico Vaticano II, foram votados os desmembramentos de alguns secretariados regionais. Nasceu assim o nosso secretariado regional, composto pelos estados que o integram até hoje (RN / PB / PE / AL). A primeira administração do Regional Nordeste 2 foi confiada a Dom Helder Camara, recém-chegado à Arquidiocese de Olinda e Recife, cujo processo de beatificação e canonização está em andamento.

Nascido dentro do Concílio Ecumênico, nosso Regional, para entender sua razão de ser e sua missão, precisa compreender e nos ajudar a aprofundar o alcance daquele evento que está, logo mais, no próximo dia 08 de dezembro, comemorando os cinquenta anos de sua conclusão. Pe. Mário de França Miranda, jesuíta brasileiro, assessor da CNBB em várias ocasiões, tem um artigo que trata da Igreja em contínuo aggiornamento, como bem expressou o Papa João XXIII. No seu escrito, Pe. França Miranda nos ajuda a compreender as dificuldades próprias que devem, inevitavelmente, ser enfrentadas, nos anos seguintes a um concílio, sobretudo este, que foi um concílio de atitudes. É urgente atualizar a mensagem da salvação, procurando torná-la compreensível para o mundo moderno, lembrando que não se deve entrar no diálogo com o mundo sacrificando as próprias convicções. Se o diálogo com os de fora ganha credibilidade a partir do diálogo no interior da própria Igreja, vejam como é importante levar a sério um encontro anual como este.

Seria de estranhar se, ainda hoje, não houvesse dificuldades no acolhimento do Concílio Vaticano II. Mais estranho seria se, na tentativa de acertar e ser fiel ao seu espírito, não existissem também desvios. Compete a nós, hoje, nessa parte nordestina da Igreja, no Brasil, a tarefa de atualização do Concílio, uma vez que, do ponto de vista institucional, a Igreja pode sofrer mudanças; enquanto instituição humana e terrena, necessita de contínua reforma, para ser fiel à missão de Jesus Cristo. “A tarefa de atualização prossegue e deve prosseguir para que a Igreja continue sendo o sacramento da salvação de Jesus Cristo ao longo da história, mesmo que ela experimente, temporariamente, certo desequilíbrio, como já acontecera com Concílios anteriores”, como diz o Pe. Mário.

Houve, na América Latina, tentativas de aproximar o Concílio da nossa realidade latinoamericana. As conferências de Medellín e Puebla retomam, fortemente, o Concílio Ecumênico e abordam as questões que continuam e vão continuar na ponta de nossa reflexão: a liturgia, o diálogo ecumênico e inter-religioso, a eclesiologia, o ministério ordenado, a família e, dentre outros temas, a importância dos leigos, seu apostolado e seu protagonismo. Ainda não entendemos, suficientemente, o alcance da vocação cristã, nossa vocação batismal. Por isso, em consonância com a CNBB, dedicamos nossa assembleia jubilar ao tema dos leigos e seu protagonismo, inspirados na palavra do Senhor que nos chama de sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13.14).

Recordo, ainda, que “os estudiosos dos concílios ecumênicos observam que nenhum deles foi seguido de uma recepção tranquila e unânime. Pelo contrário, por implicarem mudanças, despertaram medos e resistências, geraram crises e tensões. Não é deveras simples desfazer-se de hábitos arraigados, de mentalidades familiares, de práticas longevas. Acolher o novo implica, inevitavelmente, coragem e risco”, como diz o Pe. Mário de França Miranda. Espero, por isso, que, com a nossa abertura de coração e inteligência para o Espírito Santo, alma da Igreja, possamos dialogar com os leigos e sobre os leigos. Vocês, homens e mulheres, leigos e leigas, “são chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais, sob a guia de seus pastores” (Documento de Aparecida, 211). Precisamos superar a mentalidade de que os leigos e leigas estão, se comparados aos ministros ordenados, numa posição de inferioridade. Sendo a Igreja o povo de Deus, nós somos um povo em marcha. Rejeitar a ideia vertical de hierarquia para consolidar uma hierarquia de comunhão não fere em nada a hierarquia da Igreja. Será, sem dúvida, a consolidação da hierarquia da Igreja, que aprendeu de Jesus que, quem quiser ser grande, seja o servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos (cf. Mc 10, 43-44).

Nessa hierarquia pastoral, à semelhança de um rebanho que caminha tendo à frente seu pastor, o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, colocou que o bispo, às vezes, deve se colocar à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo; outras vezes, deve se manter, simplesmente, no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa; e, em certas circunstâncias, deverá caminhar detrás do seu povo, para ajudar os que se atrasaram e, sobretudo, porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas (cf. n. 31). Ou seja, o bispo deve acreditar nos seus leigos e leigas e, por isso, deve dar-lhes sólida formação doutrinal, pastoral, espiritual e adequado acompanhamento para que cumpram sua missão com responsabilidade pessoal (cf. DocAp, 212).

Quero reiterar nossa alegria pela presença de cada irmão e irmã que aqui está, dando as boas vindas aos leigos e leigas, aos religiosos e religiosas e aos irmãos bispos, padres e diáconos. Faço uma menção especial a Dom José González Alonso que, em razão de sua idade, entregou o pastoreio da Diocese de Cajazeiras, depois de catorze anos de dedicação àquela porção do povo paraibano, e damos as boas vindas ao administrador diocesano “sede vacante”, Pe. Agripino Ferreira de Assis. Igualmente, destaco a participação de Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa (bispo de Garanhuns) e Dom Antonio Tourinho Neto (bispo auxiliar de Olinda e Recife) que aqui estão, pela primeira vez. Durante esses dias, em nossas orações, lembremo-nos de todos os que construíram a história do nosso Regional. Sejamos agradecidos aos presidentes (Dom Helder Camara, Dom José Maria Pires, Dom Antônio Soares Costa, Dom José Cardoso Sobrinho, Dom Marcelo Pinto Carvalheira, Dom Edvaldo Gonçalves Amaral, Dom Antônio Muniz Fernandes, Dom Genival Saraiva de França), aos secretários, aos assessores e, especialmente, aos que trabalharam na discrição ou até mesmo no anonimato. Aproveito para agradecer a meus irmãos no episcopado por terem me confiado, pela segunda vez, o mandato da presidência. Por fim, desejo a todos uma fecunda participação e que a Virgem Maria, primeira discípula missionária, nos acompanhe nesses dias de reflexão e oração. Com esta palavra de boas-vindas, declaro aberta a nossa Assembleia jubilar.


Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Presidente do Regional NE2
Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife