Na celebração pascal ressoa para nossa Igreja de Olinda e Recife e todas as Igrejas espalhadas pelo mundo o anúncio do anjo às mulheres na madrugada do domingo da ressurreição: Não tenham medo. Sei que vocês procuram Jesus, o crucificado. Não está aqui. Ressuscitou. Venham e vejam o lugar onde estava depositado o seu corpo” (Mt 28, 5- 6).

Se vocês e eu proclamamos hoje essa palavra, não é apenas para repetir o que o evangelho nos diz. É sim para confirmar algo muito importante e urgente no mundo atual: essas palavras significam que o amor de Deus é mais forte do que todo o mal que vemos instalado no mundo, inclusive o Covid-19, experiência que está nos possibilitando viver uma Páscoa especial.

A boa nova da ressurreição significa que o amor de Deus pode transformar nossas vidas. Pode converter nosso coração de pedra em coração de carne, como diz a profecia de Ezequiel. Todos nós, ministros e leigos, somos chamados a testemunhar o Ressuscitado e só podemos fazer isso se formos testemunhas do amor divino para o mundo. O anúncio da ressurreição de Jesus só se torna testemunho quando conseguimos superar nossos egoísmos, nossas tendências à divisão e aprendermos a irmos ao encontro dos outros. Só testemunhamos que Jesus ressuscitou quando cumprimos o que pede a Campanha da Fraternidade deste ano: ver, compadecer-se e cuidar das pessoas feridas. O ícone desta campanha é a Santa Dulce dos Pobres que viveu para os excluídos, sobretudo os que enfrentavam problemas de enfermidade. Jesus Cristo sempre procurou mostrar que a fé no evangelho é fonte de amor e igualdade humana, e não de discriminação social, racial ou qualquer que seja. Só assim podemos dizer a nossos irmãos e irmãs de hoje, o que o anjo transmitiu às mulheres: Venham e vejam. O amor é mais forte do que a morte, o amor dá vida e transforma nossos desertos em jardins floridos.

Apesar de todo sofrimento que estamos passando, como tem sido edificante presenciarmos o batalhão de médicos, enfermeiros, serviçais e voluntários praticando o evangelho, ao cuidar dos enfermos nos hospitais, casas de saúde, abrigos de idosos, albergues para pessoas carentes, distribuindo comida para os pobres e tantas outras belas iniciativas. Muitos, provavelmente, nem têm consciência da experiência espiritual e pastoral que estão realizando. Na verdade é Jesus que está indo ao encontro dos necessitados através deles e delas, que correm riscos de vida por amor aos irmãos. Com certeza, não ficarão sem a justa recompensa.

Desta vez, as celebrações foram transmitidas pelas emissoras católicas de televisão, e as várias redes sociais, tendo sido acompanhadas pelos nossos fiéis, com igual ou maior piedade, em cada igreja doméstica reunida. Essa realidade muito vivenciada pelos primeiros cristãos, o novo coronavírus nos obrigou reconquistar. Em famílias, os fiéis escutaram a palavra de Deus, fizemos sua comunhão espiritual, receberam as bênçãos do Senhor e proclamaram a Páscoa de Jesus e nossa, na certeza de que em cada lar existia uma presença invisível, mas perceptível aos olhos da fé, o Cristo Ressuscitado.  

No evangelho lido na missa do Domingo da Ressurreição pela manhã, retomamos o começo do capítulo 20 do quarto evangelho. E essa narrativa mostra as figuras de Pedro e do discípulo amado que na madrugada do domingo, quando ainda era escuro, foram ao sepulcro de Jesus. O evangelho conta que os dois correm, o discípulo amado chega primeiro à sepultura, mas não entra. Espera Pedro que chega depois, observa as faixas de linho que tinham envolvido o corpo e estão jogadas no chão. Eles veem, acreditam e voltam juntos para casa. O que Deus pede de nós é que não nos dividamos e saibamos nos complementar para que, assim como Pedro e o discípulo amado, possamos juntos ser testemunhas da ressurreição. Só podemos cumprir essa missão se conseguirmos ser vistos como pessoas amáveis e abertas às relações humanas, para todas as pessoas, indistintamente.

Diante de toda essa onda de dor e sofrimento que estamos passando, façamos uma leitura espiritual relacionada com a nossa vida e a vida de nossas comunidades e busquemos viver, essa e as Páscoas que seguem, de maneira diferente. Deixemos para trás toda ambição e egoísmo e nos entreguemos nas mãos do Deus que nos ensinou que a verdadeira vida e alegria estão nas coisas pequenas e singelas.

Feliz Páscoa!

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife

Recife, 12 de Abril de 2020.